Jeferson Tenório e Itamar Vieira Júnior são dois dos muitos escritores que se destacaram nas redes sociais e ganharam notoriedade na nova literatura brasileira.

Por Guilherme Corte

Jeferson Tenório e Itamar Vieira Júnior são dois fenômenos da literatura nacional recente, que se destacaram nas redes sociais. Os dois autores ganharam muita notoriedade por conta dos livros “O Avesso da Pele” e “Torto Arado”, respectivamente.

Tenório, que venceu o Prêmio Jabuti em 2021, um dos principais troféus da literatura brasileira, teve seu livro retirado de escolas de Goiás, Paraná e Santa Catarina porque autoridades estaduais consideraram as cenas de sexo descritas no livro impróprias para a leitura de adolescentes de 14 a 18 anos.

Por conta disso, muitos amantes da literatura se indignaram com a censura e, assim, o livro começou a ser muito divulgado, mesmo que indiretamente, já que com a revolta dos leitores, muitas pessoas conheceram a obra.

Já Itamar Vieira Júnior não teve nenhuma obra censurada, mas se destacou no cenário literário por conta do livro “Torto Arado”. A obra aborda temas como luta pela dignidade do trabalhador do campo, cultura e herança africana, fome, seca, violência de gênero, formação identitária, relações familiares, sociais e de poder.

Além dos escritores citados acima, o Brasil conta com diversos outros autores famosos e consagrados há mais tempo. Dentre eles, estão nomes como Raphael Montes e Santiago Nazarian. De acordo com o portal de Veja, Montes, sucesso nas redes sociais, já vendeu cerca de 200.000 livros.

É importante ressaltar que Raphael Montes conseguiu muito destaque através de bookstans, perfis em redes sociais de fãs que opinam e indicam livros. Já Nazarian, chegou a ser citado em uma prova federal do ensino médio no ano de 2018, ao ser comparado com Stephen King, escritor mundialmente conhecido por conta de seus livros de terror e suspense.

De acordo com Gabrielle Rocha Moreira, estudante de jornalismo do terceiro semestre da Unesp e bookstan, dona do perfil “gabsnaleitura”, alguns fatores podem explicar a ascensão desses autores no cenário nacional. Dentre eles, está o modo como esses textos são escritos, sendo mais cativantes para os leitores mais jovens. “Eles utilizam de meios que fazem com que essa nova geração se sinta mais engajada. Mensagens de texto, memes, escrita moderna e objetiva. O sucesso desses escritores vem da criatividade magnífica unida a se adaptar conforme as mudanças da sociedade”, afirmou.

Além disso, Moreira ainda revelou que a nova geração de escritores brasileiros pode “colocar o Brasil no mapa” do cenário literário mainstream mundial. “O Prêmio Jabuti está para mostrar como a escrita brasileira é fantástica e merece ser valorizada. Sei que somos acostumados a ter essa síndrome de cachorro vira-lata que acha que tudo de fora é melhor, mas se focássemos um pouco aqui, veríamos que não perdemos em nada para livros estrangeiros, apenas temos escritores incríveis que merecem ser mais valorizados”, disse.

Por fim, a bookstan ainda citou alguns autores da nova geração que os amantes da literatura devem conhecer. “Raphael Montes me conquistou demais. Eu sempre indico Thalita Rebouças para um romance clichê e gostoso de se ler, se quer algo mais profundo, temos Carla Madeira com “Tudo é rio””, afirmou.

Santiago Nazarian opina

Já Santiago Nazarian afirmou que os bookstans e a internet só ajudam autores e obras voltadas para um público mais jovem. “Se é um livro para o meio literário, para leitores mais experientes, para concorrer a prêmios, o circuito ainda é tradicional, conservador, baseado no boca-boca, nas publicações especializadas e nos livreiros sobreviventes”, disse.

O autor de “Neve Negra”, “Veado Assassino” e outros sucessos, ainda comentou sobre sua preferência por alternar entre formatos literários diferentes, principalmente buscando atingir um público variado. Entretanto, o escritor deixa claro que não foge de seu projeto literário preferido.

“Eu procuro desafios, coisas que não fiz ainda, temas que não tratei, formatos… atingir outros públicos, tentar conquistar outras coisas na carreira. Isso é que me motiva a sempre buscar algo diferente, mas sempre dentro do meu universo, do meu projeto literário, que eu chamo de existencialismo bizarro, que é essa mescla do literário com o pop, com o terror, o sombrio”, contou.

Além disso, o escritor ainda fez algumas recomendações de autores da nova geração. “Alessandro Thomé, que tem um livro belíssimo de uma mulher à deriva num barco no mar. O Mike Sullivan trata do universo gay com um lirismo e uma melancolia que eu adoro. E recentemente li um senhor chamado Francisco Leite Duarte Brasil que retrata o universo do sertão da Paraíba de forma fascinante, com seus pássaros, seus cenários”, falou ele.

Por fim, Santiago Nazarian ainda comentou sobre as dificuldades de ser um escritor no Brasil atual. “Eu sou um autor “alternativo”, não vendo horrores, não sou favoritos nos prêmios, e a gente já tem um mercado literário tão restrito, que se você não estiver no primeiro time, na primeira divisão, fica difícil de sobreviver, tanto como escritor, continuar publicando, quanto como ser humano mesmo, pagar as contas”, contou.

Confira a entrevista completa com Santiago Nazarian.

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