Neste outono de 2024 que se inicia, presenciaremos o fim do fenômeno atmosférico conhecido como El Niño e a transição gradual para sua contraparte La Niña. Sabendo disso, entenda o que de fato são estes fenômenos e suas consequências para o Brasil.
Por Pedro Perobelli


Em primeiro lugar, é importante frisar que há diversas inconstâncias presentes na meteorologia. Nem todos os termos e causas dos eventos são consensuais entre os estudiosos da área. Variações também se aplicam ao El Niño e à La Niña. Sendo assim, busca-se trazer ideias gerais para descrever também suas consequências.
De início, é preciso entender o que ocorre normalmente na porção equatorial do oceano pacífico para compreender estes eventos climáticos. Em situações normais, correntes de vento chamadas de ventos alísios, sopram vindo das regiões subtropicais para a linha do Equador, essas movimentações levam as águas aquecidas da costa oeste da América do Sul para a direção da costa leste da Oceania.
Este processo de transporte da água faz com que uma massa de água fria e densa das profundezas “suba”, em um processo chamado de ressurgência. Em somatória, a água evaporada passa por um ciclo, aquecendo o ar. Posteriormente, este ar quente sobe até as mais altas camadas atmosféricas em direção às zonas subtropicais novamente. Este mecanismo é chamado de Célula de Hadley.

El Niño
O fenômeno El Niño é não periódico, embora costume ser visto em intervalos de dois a sete anos. Em anos de El Niño, os ventos alísios enfraquecem, fazendo com que a massa de água quente na região equatorial não se mova normalmente, alterando a Célula de Hadley, de forma a aumentar o aquecimento na área e trazendo consequências para toda a América Latina em seu clima e temperatura.
De forma restrita ao solo brasileiro, as consequências para o norte do país envolvem redução das chuvas, enquanto na região nordeste ocorrem secas severas que levam a um aumento de incêndios florestais.
O centro-oeste é menos afetado, com efeitos sentidos pelo aumento de temperatura e volume de chuvas principalmente no Mato Grosso do Sul. No sul e sudeste, níveis de chuva que superam a média histórica e aumentos significativos na temperatura.
É considerada a presença de El Niño quando a temperatura da água na região do Pacífico Equatorial ultrapassa +0,5°C, o evento que se encerra foi considerado forte, variarando entre +1,5 e +1,9°C. Fenômenos classificados como muito fortes ultrapassam 2,0°C por pelo menos três meses, como em 1997/1998 e 2015/2016.
La Niña
Caracterizada pelo fortalecimento dos ventos alísios que intensificam o processo de ressurgência e mantém a água do Pacífico Equatorial mais fria do que o normal, modificando a Célula de Hadley.
Algumas consequências envolvem, no norte e nordeste, um aumento dos volumes de chuva, enquanto no sul podem acontecer secas e quedas de temperatura. No centro-oeste e sudeste os efeitos variam, podendo haver aumento de chuvas ou não, um padrão costuma ser a baixa na temperatura.
É determinada sua presença baseada na temperatura da água na mesma região medida no El Niño. Em caso de uma temperatura inferior a -0,5°C, configura-se a La Niña.
Vale citar que os efeitos descritos dependem também das massas de ar Antártica e Equatorial Continental, assim como massas vindas da África e outras localidades. Os efeitos se resumem a uma visão média dos fenômenos.
Em entrevista para o Contexto, José Carlos Figueiredo, meteorologista formado na Universidade Federal da Paraíba, mestre e doutor em agronomia pela Unesp, hoje meteorologista da mesma, descarta o termo “Super El Niño”, por vezes veiculado de forma sensacionalista para caracterizar passagens intensas do fenômeno. José também diz que é impossível prever os efeitos da La Niña que se aproxima, descrevendo os eventos como “irregulares” e “imprevisíveis”, sendo difícil imaginar até mesmo sua duração.
Por fim, o que esperar do clima em nossa região nessa transição entre El Niño e La Niña? De acordo com Danielle Barros Ferreira, graduada em meteorologia pela Universidade Federal do Pará, com mestrado e doutorado em meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e que atualmente trabalha no Serviço de Pesquisa Aplicada no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), “a tendência de transição para a neutralidade prevê, na região sudeste, chuvas próximas ou ligeiramente acima da climatologia, em abril e maio, com redução mais significativa em junho. Na temperatura, as previsões indicam valores acima do comum nos próximos meses”.
