Fortes temporais e alagamentos constantes na região leste da capital provocam falta de luz e energia elétrica
Por Bruna Tímaco Sun
As constantes chuvas que atingem São Paulo quase sempre vem acompanhadas de interrupção da energia elétrica nas casas. Para especialista da área de biologia vegetal, esses desastres podem ser ocasionados pela compactação do solo da região urbana e a falta de manutenção.

As rajadas de vento, consequência das frequentes chuvas no município, são a grande causa da queda de árvores na região leste. Além de prejudiciais para a arborização natural das cidades, são riscos que interferem na vida do paulistano, uma vez que os rejeitos afetam a fiação elétrica da cidade, contribuindo para os apagões e queda na rede de internet.
Além disso, pontos de esgoto localizados também são atingidos pelos galhos e folhas das árvores abaladas durante as tempestades, que causam alagamentos que atingem não apenas as ruas impossibilitando o tráfego, quanto as moradias, o que acarreta diversos prejuízos aos moradores.
É o caso da estudante Giulia Nakamura da Silva, 19, moradora da Penha em São Paulo. “Toda vez que chove um pouco mais forte, é certeza que vai faltar energia”, disse. Ela aponta a ineficiência que os postos de energia apresentam para atender o seu bairro. “Demora de um a dois dias para voltar ao normal”, conta.
Com relação aos alagamentos, Giulia explica que se sente prejudicada. “Moro em zona de alagamento, então as ruas ficam muito sujas de lixo, além da poluição sonora em decorrência do trânsito nos arredores e a impossibilidade de sair de casa”, complementou.
A estudante conta também que, sem luz, energia e internet, é quase impossível levar um dia normal. “Eu utilizo desse recurso pra estudos, que é prejudicado quando tem quedas de árvores. Além disso a falta de energia também impede a realização do trabalho dos meus pais, que necessita da internet e de computadores”, reclama.

A professora de Biologia da Unesp Marina A. Gavassi explica as motivações que levam ao grande número de árvores devastadas com os temporais. “A compactação do solo em razão das construções leva à falta de espaço suficiente para o crescimento das raízes e sustentação dos troncos das árvores, especialmente as de grande porte. Além disso, é preciso levar em consideração que algumas espécies plantadas nas calçadas não são indicadas para condições urbanas, por exemplo, por atingirem tamanho de copa muito extenso ou apresentarem madeira de pouca rigidez e, portanto, representam mais riscos quando expostas a condições climáticas adversas (como) ventos e chuvas fortes”, explica
De acordo com ela, as enchentes urbanas também constroem um cenário propício para as quedas de árvores. “Aliado a isso, temos que na cidade de São Paulo ocorrem enchentes com frequência, levando a um volume maior de água acumulado na região das raízes que, devido à má condição do solo compactado, pode levar a um escoamento lento. Esse ‘alagamento’ das raízes causa hipóxia (baixa oxigenação), enfraquecendo e, eventualmente, causando o apodrecimento das raízes”, acrescenta.
Para a professora, há algumas medidas para amenizar esses processos com o intuito de evitar essas tragédias “naturais”. “Deve-se levar em consideração que as raízes precisam de espaço para crescimento, sendo assim, é importante implementar uma infraestrutura urbana que acomoda o crescimento das raízes, minimizando a compactação do solo e seu impacto sob o sistema radicular, como canteiros maiores, áreas verdes integradas e pavimentos permeáveis”, comenta.
