Depois de 56 anos de história, tradicional bar dá lugar a empreendimento imobiliário
Por Rodrigo Matias
O dia 26 de fevereiro foi a última vez que se escutou as risadas e conversas na Mercearia São Pedro, principal casa dos boêmios da Vila Madalena, tradicional bairro da zona oeste paulistana. Localizada na rua Rodésia desde 1968, a “Merça”, como é chamada por seus clientes, já abrigou grandes nomes da cultura nacional e internacional, como o cantor Nick Cave e Sócrates, o lendário jogador do Corinthians e da seleção brasileira, além de outros importantes artistas e intelectuais. Hoje, o bar dá lugar a um empreendimento imobiliário.
Fechada há pouco mais de um mês, a Mercearia já causa muita saudade em seus fregueses, que se amontoavam no bar para almoçar, comer pastéis, tomar cerveja, comprar discos ou livros, ou apenas para reencontrar (ou fazer novas) amizades.
Em 56 anos de funcionamento, a “merça” se tornou um patrimônio imaterial do bairro e marca presença na memória de muitos moradores.
Um deles é o musicoterapeuta Wellington Romano, que frequentou o local por mais de 18 anos. “Comecei porque meu consultório ficava a poucos metros dali e o almoço tinha um tipo bem caseiro. Com o passar do tempo fiz amizades, inclusive com o dono, que sempre me tratou muito bem”, diz.
O musicoterapeuta também conta sobre o significado do bar para o bairro. “A importância estava justamente nisso, pessoas legais e bons assuntos a todo momento. Era sempre uma ótima forma de atualizar os pensamentos e se divertir. Um relax para descarregar as tensões”, relatou.
Wellington também comenta sobre algumas das histórias vividas na Mercearia. “Havia uma mesa em que se sentavam os chamados ‘membros da diretoria’ e sempre gerava polêmica. Sentávamos sempre na mesma mesa, às vezes um desavisado se juntava a nós e dávamos, sempre com muito bom humor, um jeito de tirá-lo do nosso canto.”
Nas mais de cinco décadas em que esteve aberta, a Mercearia São Pedro serviu de lar para todos. Era possível encontrar renomados intelectuais e artistas tomando uma cerveja em busca de inspirações para suas obras, ao lado de trabalhadores que estavam ali para descansar do serviço ou assistir uma partida de futebol. Tudo isso de maneira extremamente harmoniosa, como afirma Wellington. “Fica a imagem da amizade, do carinho e do clima de união que sempre permeou todos os assuntos. Isso era o mais importante!”
Aqueles que frequentaram o número 34 da rua Rodésia vão para sempre guardar e carregar o legado da ‘Merça’ na memória.
Jornal Contexto 