Teatro Municipal de Paulínia corre o risco de ser privatizado. Enquanto isso, situação do prédio é de total abandono
Por Geovana Menussi
O Teatro Municipal Paulo Gracindo, localizado em Paulínia, no interior de São Paulo, foi inaugurado em 2008 com a intenção de inserir a cidade no circuito cultural do Estado. Porém, com a pandemia do Covid-19, a falta de investimento no teatro, que já era presente, piorou. Atualmente, o teatro se encontra com diversas marcas de abandono e vandalismo, como pichações. O que fez com que uma proposta de privatização enviada pela própria prefeitura fosse aprovada.
“Hoje o prédio não tem mais fiação elétrica, os cupins estão acabando com os assoalhos e carpetes”, afirma uma funcionária pública, que prefere não se identificar.

Sinais de vandalismo e abandono no teatro. Fotos: Geovana Menussi.
A cidade, que já foi considerada a “Hollywood caipira”, contando com um polo cinematográfico e com o teatro grandioso, hoje está distante dessa realidade. Quase sem nenhum investimento na área e com polêmicas envolvendo desvio de verbas do teatro em 2020, época em que o mesmo apresentou indícios de descuido, o município deixa de ser referência no universo cinematográfico do país.
Com o objetivo de suprir o alto custo de manutenção e contar com uma equipe qualificada para administrar, tanto o patrimônio como a organização dos eventos no teatro, em 2022 os vereadores do município aprovaram a concessão para a iniciativa privada, mas o processo ficou estagnado.
Mais recentemente, em fevereiro deste ano, o caso foi atualizado. Em audiência pública, um processo de concessão à privatização foi novamente proposto. A ideia da Prefeitura era transferir a terceiros a responsabilidade de investir, melhorar e expandir o teatro, em troca da oportunidade de explorá-lo por conta própria.
A concessão, conforme explicado no evento, envolve a restauração e manutenção do prédio, das áreas verdes ao redor e a gestão completa do teatro e do estacionamento, incluindo a organização de eventos ao ar livre nas proximidades. O contrato tem duração de 20 anos, podendo ser prorrogado por igual período, e estima-se um investimento de cerca de R$ 4,7 milhões em obras de restauração.
Ao ser questionada sobre a reação do prefeito e da secretaria de cultura, a funcionária afirma que “todo trâmite está parado. Recuaram. Entenderam os apontamentos da população”, visto que, após a audiência, a população reagiu totalmente contra a proposta e uma série de protestos em redes sociais em defesa da democratização da cultura foi gerada. A população entendeu que a privatização implicaria diretamente no alinhamento da arte com a concorrência e o lucro, passando este a ser o maior interesse. O que levaria a um possível esquecimento do objetivo principal dos teatros, que é a propagação da cultura para todos e abriria espaço para o elitismo cultural.
Por outro lado, ao observar o descaso da prefeitura com o teatro, mesmo depois da polêmica, percebe-se que há um total desinteresse na manutenção para a reativação do mesmo. Ao ser questionado sobre o assunto, o administrador Guilherme Loureiro, afirma que “apesar de ser contra a privatização, ao observar o descuido da prefeitura com o estado do teatro, eu me inclino a achar que ela é a melhor opção para restaurar o local, a fim do retorno da sua função sociocultural. Porém, caso a mesma aconteça, é dever da ação pública ainda garantir que todo morador de Paulínia possa ter acesso ao local”.
Não se sabe se a prefeitura seguirá com a ideia de privatização. Porém, é certo que os cidadãos da cidade almejam ver o teatro novamente na ativa, com os seus 1.200 lugares lotados, fazendo jus à sua grandiosidade.
