Torcedores se revoltam, enquanto mídia e mundo do futebol mostram-se desinteressados em relação aos casos de violência contra a mulher cometidos por jogadores
Por Marcela Jardim

Nas últimas semanas, Daniel Alves, jogador da seleção brasileira preso por estuprar uma mulher em Barcelona na madrugada do dia 31 de dezembro de 2022, voltou à mídia após seu delito tornar-se passível de fiança. Além disso, o atacante Robinho foi condenado a nove anos de prisão pelo abuso coletivo de uma jovem albanesa em 2013, na Itália e a equipe jurídica do jogador recorreu à condenação do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Ambos os casos causaram revolta entre as mulheres, principalmente, àquelas que são fãs de futebol.
Na opinião de Carolina Bordin, coordenadora do podcast sobre futebol feminino “Elas por elas” da RUV Podcasts, ter um valor a ser pago para ser livre não muda nada para esses jogadores, já que recebem quantias absurdas de dinheiro. A graduanda de jornalismo ainda demonstrou insatisfação sobre a vida do esportista continuar da mesma forma ainda que tenha cometido um delito grave. “Quando o jogador entra em campo ou até mesmo fora dos gramados, ele carrega aquilo com ele e muitos clubes e torcedores ainda sim continuam apoiando o atleta”.
Ela explica ainda que “é muito desanimador e frustrante ver isso sendo mulher e torcedora”. Carolina diz que “casos como o do Daniel Alves tiram a credibilidade de várias mulheres porque é algo que se repete, já que não é a primeira vez que um assunto desse tipo vem à tona, mesmo com provas, toda a situação continua da mesma forma”.
A prisão de Robinho, ocorrida mais de uma década após o crime, serviu para mostrar o quanto é difícil punir uma personalidade do futebol. “Com certeza a importância dele para o futebol e para a sociedade foi um fator determinante para a condenação tardia”, comentou o coordenador do núcleo Esportes da RUV, Pedro Lélis.
O estudante de jornalismo ainda completou a crítica: “O fato de o Robinho ser tratado como ídolo no Santos, Real Madrid e Milan, além de atrasar a condenação, também adiou para a sociedade se conformar e acusá-lo, nas redes sociais muitos ainda defendem o jogador”.
A mídia mostrou-se desinteressada pelo assunto após três ou quatro dias da apreensão do atleta. “Mais grave do que atrasar dez anos para prender uma pessoa que cometeu um crime hediondo, é que ainda não aconteceu a condenação moral dele”, declarou o produtor do podcast esportivo “Arquibancada”.

A imprensa italiana repercutiu a decisão do STJ de mandar prender o ex-jogador de futebol, que foi julgado em Milão e condenado a nove anos de prisão por estupro. Há uma forte suspeita rondando as redes sociais que a condenação tardia do esportista ocorreu pela posse de recursos financeiros e status. “Os dois casos são um reflexo da sociedade em que vivemos. Se você for homem, rico e com uma relevância social e midiática você está praticamente isento de qualquer crime”, por fim, constatou Pedro.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) se manifestou sobre a apreensão dos jogadores apenas após a repercussão dos crimes e o posicionamento de Leila Pereira, presidente do Palmeiras e a primeira chefe de delegação mulher da seleção brasileira. A empresária declarou que ambos os casos foram “um tapa na cara” de todas as mulheres e ressaltou a importância de seu posicionamento para maior visibilidade da causa. Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, foi sucinto e apenas disse que cada um deve cumprir a pena por seus crimes.
Segundo a advogada Amanda Sabadin, o caso Daniel Alves seria julgado de uma forma diferente em território nacional. “O crime de estupro no Brasil não admite fiança (art. 323 – cpc)”, disse a jurista. Além disso, segundo o código penal brasileiro, crimes de violência contra a mulher em que a pena for privativa de liberdade, não superior a quatro anos, pode ser arbitrada a fiança, porém o Ministério Público espanhol pedia a condenação de nove anos e, pela lei espanhola, condenados a menos de cinco anos podem pedir a progressão para o regime de “semiliberdade”. Assim, nota-se a diferença do tratamento jurídico com um ídolo do futebol.
Sobre o outro caso, a advogada comentou que “Robinho teve que ter sua sentença homologada pelo STJ, mas no Brasil existem vários recursos e enquanto a sentença não transita em julgado, ou seja, não cabe mais nenhum tipo de recurso, a pessoa não vai presa”. Dessa forma, há uma explicação legal para a demora da prisão do jogador.
Daniel Alves responde em liberdade provisória e Robinho permanece sob custódia até segunda instância.
