São Paulo recebe a exposição “Sol Fulgurante: arquivos de vida e resistência” na Pinacoteca de São Paulo em parceria com Memorial da Resistência. Exibição narra a efeméride dos 60 anos do Golpe militar
Por Giulia Morais
Até o dia 18 de agosto, os paulistanos poderão conferir a exposição “Sol Fulgurante: arquivos de vida e resistência”, na Pinacoteca Estação, em São Paulo. A abertura foi no último sábado, 06 de abril, e é fruto da parceria entre a Pinacoteca e o Memorial da Resistência.
A exposição narra e relembra os 60 anos da ditadura, recontada, desta vez, por quem viveu os ‘anos de chumbo’. Lá estão obras do acervo de Alípio Freire, Rita Sipahi, Carlos Takaoka, Neide Sá, dentre outros ativistas sobreviventes da época do Golpe.

Além disso, a exposição faz uma conexão com o coletivo Mulheres Possíveis, que realiza projetos em penitenciárias femininas do estado de São Paulo e o grupo Bajúba, projeto comunitário que reúne registros das memórias dos anos 60 e 70 da comunidade LGBTQ+, reforçando temas atuais como o combate ao encarceramento brasileiro e a homofobia.
A ditadura de 64 durou 21 anos (1964-1985), teve cinco presidentes militares e 16 atos institucionais (Al). Além de informações alarmantes investigadas pela Comissão Nacional da Verdade, entre eles 475 mortes e desaparecidos politicos, 1.188 camponeses assassinados, 4 condenações de pena de morte, 50 mil presos nos primeiros meses e milhares de exilados.

A partir desses dados, a exposição estimula o público a desvendar um olhar mais amplo sobre esse período do Brasil silenciado. O intuito é valorizar a importância da arte, que oportuniza que a nação construa outras memórias de um tempo complexo, e que encontrou, por meios artísticos, diversos modos de se expressar e de resistir.
Ao ser questionada sobre o impacto da arte e o desejo de criar essa proposta, a curadora da exposição Lorraine Mendes, doutoranda em História e Crítica da Arte pela UFRJ, diz que a arte “dá essa possibilidade de não desistir, da arte ser algo que salva, uma saída, pensar num desdobramento. Era um desejo meu que a exposição fosse ao mesmo tempo sensível, mas que tivesse uma alegria, que fosse um sol fulgurante no sentido de uma violência imensa que é constituinte da sociedade brasileira, mas que encontra a nossa vida e alegrias que são teimosas e uma resistência incansável”.
A exibição apresenta obras diversas: desde desenhos, poemas sobre a prisão, poesias de saudade, pinturas, manifestos, documentos, relatos e até cartas de presos aos familiares. E, aos poucos, conta ao telespectador diversas histórias, criando uma linha do tempo, em que as nuances vão além do sofrimento vivido, revelando os afetos, os laços, as amizades e desejos que cada uma dessas pessoas tinham sobre o futuro.
E esse futuro chega: o presente e o atual cenário brasileiro, mostrando que o país é esse misto entre ser o reflexo desse projeto de violência que foi a ditadura, ao mesmo tempo em que ainda há beleza na esperança e na luta dos brasileiros.

“Queria que essa exposição fosse também sobre isso, como não reiterar a violência, mas pensar através dela, que essa violência toda existiu, mas o que essa produção artística guarda, ver que a partir das artes a gente consegue entender muita coisa hoje”, finaliza a curadora.
