Por Lana Novais
Para o jovem de baixa renda, passar no vestibular é apenas o primeiro desafio na busca por uma graduação. Questões que acabam por afetar o âmbito financeiro do jovem, como o deslocamento até a universidade, moradia e alimentação, passam a ser preocupações recorrentes que precisam ser resolvidas antes do início das aulas, em um momento no qual o estudante ainda não recebe nenhum auxílio estudantil, sendo totalmente dependente da renda familiar, que muitas vezes, não é suficiente.
Em um mundo pós pandêmico, as problemáticas do ensino público, que já existiam antes mesmo da COVID -19, foram intensificadas após ela. Em uma pesquisa recente realizada pela ENAP (Escola Nacional de Administração Pública) 70% dos estudantes de escolas públicas não aprenderam português adequadamente na pandemia.
Diante desse cenário, medidas foram implementadas nas universidades para auxiliar no ingresso desses jovens no ensino superior. A Lei de Cotas e bolsas de permanência estudantil são exemplos que tentam diminuir as desigualdades. Medidas as quais surtiram resultados nos últimos anos, possibilitando que em 2023, 54,1% dos ingressantes na USP (Universidade de São Paulo) sejam oriundos de escolas públicas e 27,2% sejam pretos, pardos e indígenas.
Na Universidade Estadual Paulista, (UNESP), os auxílios de permanência estudantil são distribuídos de forma anual e limitada, sendo destinados aos estudantes que se encontram em condições de vulnerabilidade socioeconômica.
Para Maria Clara Zani Tomazzini, estudante de Relações Internacionais da UNESP do Câmpus de Marília e membra ativa na comunidade universitária, o tempo de espera, a burocracia exigida na solicitação de documentos e o número limitado de bolsas, acaba por serem fatores excludentes para os estudantes.
“Muitos alunos não têm contato com os pais e não conseguem acessar as documentações do núcleo familiar, principalmente alunos da comunidade LGBTQIAP+ que muitas vezes foram expulsos de casa”, disse.
Além disso, ela afirma a importância do recebimento do auxílio como um fator essencial para que ela conseguisse cursar a graduação, mas ressalta que somente ele, não seria o suficiente para se manter.
“Desde o meu primeiro ano na universidade eu recebo o auxílio permanência, eu não conseguiria estar aqui e me manter na universidade, se eu não tivesse sido contemplada, mesmo que ele por si só não garanta uma completa segurança financeira para o estudante, muitos ainda precisam trabalhar ou buscar bolsas de pesquisas acadêmicas com o intuito de complementar a renda”.
Luiza Isabel Banhara, supervisora da STAEPE (Seção Técnica de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão) da UNESP diz que os programas de permanência adotados pela universidade, têm contribuído consideravelmente para o ingresso dos estudantes no ensino superior, mas também relata que uma das maiores dificuldades em trabalhar com o programa de permanência estudantil é justamente se deparar com situações de necessidade e não poder ajudar a todos.
“Minha maior dificuldade é me deparar com as situações de necessidade de apoio socioeconômico e psicológico dos alunos, verificar as dificuldades de vida e familiares, e muitas vezes não poder ajudá-los, pois esbarramos na estrutura da universidade e de políticas públicas ineficientes”.

Sobre a possibilidade do aumento do número de bolsas ou do valor ofertado, ela explica que “por enquanto não há previsão, mas a COPE (Coordenadoria de Permanência Estudantil) está sempre atenta às necessidades das Unidades e dos alunos, e busca sempre atender a todos”.
