Cantora norte-americana Olivia Rodrigo gera polêmica ao distribuir artigos sobre educação sexual na turnê “Guts”
Por Giovanna da Silva Araujo
No último mês de março, a cantora norte-americana Olivia Rodrigo e sua equipe promoveram a distribuição de artigos como preservativos, pílulas de anticoncepção emergencial (pílula do dia seguinte) e panfletos sobre educação sexual básica e legalização do aborto na entrada de sua nova turnê Guts, iniciada no dia 23 de fevereiro em território estadounidense. A medida entrou em vigor no Dia Mundial das Mulheres (8 de março), porém, foi parcialmente suspendida a partir do dia 18 de março devido às críticas e polêmicas que a ação gerou.
A turnê Guts encerra seus shows nos Estados Unidos hoje, dia 9 de abril, voltando com suas apresentações no fim do mês na Europa. Atualmente, a equipe de Olivia mantém apenas a distribuição de folhetos, broches e adesivos com mensagens sobre saúde sexual na entrada de seus shows. Desde o início da venda dos ingressos em setembro de 2023, parte dos lucros da turnê são destinados à Fund 4 Good (Financiamento para o Bem), iniciativa criada pela própria cantora a fim de apoiar e financiar ONG’s que visam direitos reprodutivos, combate à violência de gênero e educação sexual.

Alguns dos itens que foram distribuídos no show da turnê Guts realizado em Missouri, nos Estados Unidos, em 12 de março de 2024.
Tradução: Financiar o aborto? É uma boa ideia, certo?
Apesar de a educação sexual ter sido sempre um grande tabu nas sociedades, nos últimos anos o assunto tem tido grande repercussão quanto a sua importância. Desde a educação sexual básica até o aborto, países vêm discutindo sobre como tratar dessas pautas em seus territórios.
Um dos grandes motivos que estimulam a desaprovação a educação sexual e legalização do aborto é a desinformação. Enquanto grupos de pais defendem que a educação sexual nas escolas é inapropriada e estimula a erotização, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e especialistas afirmam que a abordagem do assunto em sala de aula é essencial para a formação pessoal do aluno.
O professor de história e ativista social Rafael Oliveira, defende que “a escola, como uma ferramenta de preparo de cidadãos, também deveria ser um lugar para ensinar sobre a educação sexual”.
Ao carregar a palavra “sexual”, a educação sexual é muitas vezes interpretada em volta da palavra “sexo”, onde imagina-se que crianças serão ensinadas sobre atos sexuais e promíscuos. Porém, o tema refere-se ao conhecimento e noções básicas de anatomia, fatores biológicos, saúde e intimidade de acordo com cada faixa etária.
“Educação sexual é também uma questão de saúde pública a partir do momento que sugere essa tentativa de prevenir abusos em crianças, criar maior consciência nos adolescentes sobre doenças sexualmente transmissíveis, métodos contraceptivos e assim por diante”, complementa Rafael.
Assim como a educação sexual, a descriminalização do aborto também é um assunto que carrega muitas percepções movidas por desinformação, quando vista como questão de irresponsabilidade em vez de saúde pública.
Nos Estados Unidos, o aborto era legalizado até 2022, quando a lei foi revogada e o tema voltou a ser debatido. Atualmente, ele é proibido em 14 dos 50 estados do país, dentre eles o estado de Missouri, onde foi realizada uma das ações promovidas na turnê de Olivia Rodrigo. A distribuição de artigos a favor do financiamento do aborto provocou políticos locais como o senador estadual Bill Eigel, que alegou erroneamente na rede social X (antigo Twitter) que as pílulas distribuídas eram abortivas.
Já no Brasil, a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gravidez começou a ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 22 de setembro de 2023, porém o julgamento não foi concluído até hoje. Dessa forma, o aborto no Brasil continua sendo proibido com exceção dos casos em que houver risco a vida da gestante, quando a gravidez for resultado de estupro ou em casos de anencefalia fetal, ou seja, má formação do cérebro do feto.
