Por Beatriz Marrancone

“A democracia é um regime político frágil, por isso é tão importante se fazer memória do golpe de 64.” A opinião é de Murilo Gaspardo, professor e Vice-Diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Unesp de Franca, e foi dita durante a conferência “Está vaga a presidência do Brasil”, que fez parte do evento que discutiu as consequências do Golpe de 1964 para a democracia brasileira.

Em 2024, completam-se 60 anos do golpe do dia 31 de março de 1964, apoiado por grupos conservadores dos setores políticos e sociais, que deu fim ao governo de João Goulart e iniciou o período da ditadura militar no Brasil. Junto a isso, houve uma crescente dos movimentos de extrema-direita por todo mundo, abrindo discussões sobre o estado da democracia atual no país.

Uma dessas discussões aconteceu em uma conferência no dia primeiro (01) de abril, e contou com a presença do professor Murilo Gaspardo, que abordou a questão da tentativa de golpe do dia 08 de janeiro como um claro aviso da instabilidade da instituição democrática brasileira.

“Nós não podemos achar que está tudo bem”, diz Gaspardo, mencionando o fato de não estarmos impunes mesmo após a vitória de uma governo de esquerda nas eleições de 2022.

Durante a conversa, também foram debatidos tópicos como a polarização política que, segundo o professor, é o “combustível da democracia”, pois fomenta projetos antagônicos, mas que nos últimos anos, esteve em falta.

“As pessoas começam a votar e votar e não vêem diferença, então quando aparece alguém com ideias diferentes, eles votam naquela pessoa”, completou. Para ele, este é um dos possíveis motivos para o crescimento dos movimentos extremistas de direita, tanto em 1964, quanto hoje.

Outro tema discutido foi o papel da universidade nas memórias históricas do período ditatorial. Quando perguntado sobre o porquê ainda há tantas pessoas que apoiam o golpe, Gaspardo afirma que ainda não se entende “o que se passa na cabeça do brasileiro”. Para ele, as discussões na universidade ainda não dão voz a todas as ideias. “A gente acha que o Brasil é a Unesp, achamos que os dramas dos brasileiros são os dramas daqui”, diz o professor.

Por fim, ele completou dizendo que “para uma pessoa lutar pela democracia, é importante que esta se importe com ela”. Essa discussão traz à tona novamente a importância de discutirmos o tema com toda a seriedade que ele exige.

Conferencia sobre o golpe civil-militar

Projeto “60 anos do Golpe Civil-Militar: as cicatrizes AINDA abertas na história do país”

Organizada por Maria Cristina Gobbi, professora de Jornalismo da Unesp de Bauru, e por Juarez Tadeu de Paula Xavier, vice diretor da Faac (Faculdade de Artes, Arquitetura, Comunicação e Design) e mediada por José Wilson Assis Neves Júnior, a conferência faz parte do projeto “60 anos do Golpe Civil-Militar: as cicatrizes AINDA abertas na história do país”. Durante todo o ano, o projeto vai promover atividades que viabilizem discussões sobre as memórias históricas e as consequências dessa data tão importante para a democracia brasileira.

Deixe um comentário