Depois de uma espera de sete anos, Mamonas Assassinas finalmente chega às telonas com sua tão aguardada adaptação (Foto: Imagem Filmes)
Matheus Santos
Contar a história frenética e, ao mesmo tempo, breve dos Mamonas Assassinas não é tarefa fácil, considerando que nenhum integrante do grupo sobreviveu ao fatídico acidente de avião em 1996. No entanto, foram as vivências e as histórias contadas pelos familiares que contribuíram para a adaptação do sucesso meteórico da banda em Mamonas Assassinas: O Filme.
Diferentemente do musical de 2016, em que o dramaturgo Walter Daguerre optou por não explorar profundamente a vida pessoal do quinteto, o longa-metragem decide apresentá-la de maneira paralela à ascensão do grupo. Entretanto, a superficialidade na representação dos conflitos individuais se perde na trama, dificultando a percepção das motivações e das dinâmicas que impulsionam o enredo.
O roteiro de Carlos Lombardi colabora para essa impressão, uma vez que os relacionamentos amorosos malsucedidos ocupam muito tempo de tela e não acrescentam a história. Além disso, a edição de Rodrigo Daniel Melo, com cortes repentinos e excessivos, encerra imediatamente núcleos irrelevantes de cada personagem, dando a sensação de um filme descontínuo, como se fosse composto por diversas cenas encaixadas sequencialmente na edição final.
Filmado em Guarulhos, o filme consegue capturar a essência paulistana da banda, revelando as ocupações nas quais cada membro esteve envolvido antes de alcançar o estrelato (Foto: Imagem Filmes)
Outro aspecto incoerente é a seleção de músicas atuais para compor uma produção cuja trilha sonora deveria exaltar a efervescência de ritmos da década de 1990, sobressaindo principalmente as influências que moldaram a gravação do único disco registrado pelos Mamonas. Essa escolha impacta diretamente a coesão estilística e a fidelidade ao contexto histórico, afetando a experiência cinematográfica como um todo.
Apesar desses fatores, o texto diverte pelo humor escrachado que caracterizou o grupo, destacando como os cinco integrantes do então conjunto musical Utopia se desdobraram para fechar contrato com gravadoras. Além disso, a regravação das faixas originais do álbum de estreia dos Mamonas enriquece o filme, graças à qualidade aprimorada do áudio, aliada à potência vocal do elenco formado por músicos.
A atuação dos atores que interpretam Dinho (Ruy Brissac), Bento (Alberto Hinoto), Júlio (Robson Lima), Sérgio (Rener Freitas) e Samuel (Adriano Tunes) cativa não apenas pela semelhança física, mas também pela habilidade de homenageá-los fielmente, tanto no cotidiano quanto no palco. Mesmo assim, é evidente como Bento e Júlio foram negligenciados na narrativa, que se mantém devido à presença marcante de Brissac.
Na coletiva de imprensa em São Paulo, Rener Freitas e Adriano Tunes compartilharam que dedicaram um mês e meio para aprender a tocar bateria e baixo, respectivamente, em preparação para o filme (Foto: Edu Moraes)
O desempenho do ator, que já havia vivido Dinho no musical, chama a atenção por evitar uma abordagem caricata, tornando imperceptível a distinção entre os dois. Outra revelação é a participação de Alberto Hinoto, sobrinho de Bento, interpretando o tio. Embora não tenha tantas falas, ele demonstra boa execução em seu primeiro trabalho no Cinema.
Ao utilizar sobreposições de imagens da época, a montagem realizada pelo diretor Edson Spinello evidencia a intenção de transformar essa narrativa em uma série documental. Desde a estreia do musical há sete anos, diversas produtoras tentaram adaptar a história dos Mamonas, que inicialmente seria exibida pela Record. Com o lançamento do filme, pretende-se finalmente reeditá-lo como uma série em 2025.
O grande êxito de Mamonas Assassinas: O Filme está ancorado em seu foco pouco convencional e na participação de um elenco de destaque. Notavelmente, o longa opta por não centralizar o desfecho na tragédia, episódio já conhecido pelo público. Em vez disso, ele oferece informações adicionais para relembrar como essa história foi interrompida, mas jamais esquecida.
Mamonas Assassinas: O Filme | 28 de Dezembro, Somente nos Cinemas
