Diretor do curta “Duas para Uma”, Raul Giunta conquistou principal prêmio da noite

Diretor Raul Giunta, à esquerda, recebe o prêmio (Fotos: Conrado Dacax/Equipe Filma Bauru)

Davi Marcelgo

Oscar, Globo de Ouro, Cannes, todos esses festivais premiam os principais filmes de Hollywood e do resto do mundo. Mas para além dos holofotes, o cinema é produzido em diversas partes, inclusive no interior de São Paulo. O Filma Bauru, evento que premia e divulga curtas-metragens produzidos no interior e litoral paulista, é um exemplo desta cena. 

O festival ocorreu entre os dias 3 e 7 de outubro pela quinta vez, com mostras de cinema competitivas e não competitivas. Os curtas-metragens, divididos em categorias de ficção, documentário, animação, escolha do júri popular, menção honrosa e destaque Bauru, concorreram ao prêmio de melhor filme em cada grupo.

O vencedor na categoria principal da noite “Destaque Bauru” foi o curta-metragem Duas Para Uma (2022), do diretor Raul Giunta, que produziu o filme de forma independente. “[O prêmio] significou a valorização de uma ideia, porque eu vi que os projetos que estavam participando estavam com muito orçamento, PROAC, editais”.

O PROAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo) é uma iniciativa que incentiva, apoia e patrocina produções, projetos, espaços de preservação e de circulação artístico-cultural. Por meio de inscrições em editais, autores conseguem investimento do estado em diversos segmentos culturais. 

Apesar das leis de incentivo, produzir cinema no Brasil é complexo, além dos obstáculos para divulgar e exibir longas e curtas-metragens no circuito comercial. O Filma Bauru é um meio para difundir essas obras em cenários maiores.

Filme Aprendiz, produzido por alunos em oficina organizada pelo Filma Bauru em 2023

Nas palavras da produtora do festival Ana Heloiza Pessotto, o evento, desenvolvido pelo Plano Conjunto – Coletivo Audiovisual de Bauru tem o objetivo de descentralizar a produção e exibição de obras no Estado. “A gente tentou estar em lugares muito diferentes para que as pessoas pudessem vir até a gente e ter acesso a essas histórias. Histórias que acontecem no interior, de uma pessoa que pode estar do seu lado. É a importância da identificação, a arte tem um papel na construção da cidadania e é isso que a gente quer colaborar, com a construção de quem nós somos. Nos reconhecer na tela e nos sentirmos bem e satisfeitos de sermos do interior, e com muito orgulho de ser do interior e do litoral com nossos sotaques”, explica. 

As exibições aconteceram em diversos locais de Bauru, em praças, faculdades, auditórios e no Alameda Rodoserv. Todas com entrada gratuita, transmissão online e acessibilidade em libras. A premiação também teve intérprete de linguagem de sinais no local. 

Exibição de curtas na Praça do Caic, em Bauru

Os curtas selecionados pelo festival possuem temáticas sociais, o que é reflexo do momento político do Brasil, segundo a produtora. O curador da mostra, Evandro Souza, corrobora com a afirmação da produtora. “Foi uma coisa que a gente reparou muito fazendo a curadoria: que a maioria dos filmes, até os que ficaram de fora, todos, mesmo uma animação, um filme de terror, de suspense, tinha algum pontinho de uma questão social.”

“Agora é uma coisa muito acessível de se fazer, você consegue fazer um filme com o celular, não precisa de grandes e caríssimos equipamentos e isso dá voz para as pessoas”, completou Evandro.

Raul Giunta faz parte deste grupo de pessoas que, com poucos recursos, tem utilizado o cinema para  soltar a voz. “Pra mim, [a vitória] mostrou que dá pra fazer coisas com muito pouco. Foi uma equipe de 6, 7 pessoas. Filmamos em 12 horas”.

O filme é inspirado no contexto da pandemia e traz uma reflexão sobre a importância das conexões humanas. Conta a história de uma garota que, em isolamento, decide preparar um jantar especial para si própria, utilizando um espelho.

Cartaz do filme vencedor Duas Para Uma (Foto: Arquivo Pessoal de Raul Giunta)

O diretor comentou sobre a inspiração que teve para seu filme vencedor: “eu fiz outro curta também um pouco mais triste falando sobre a pandemia. Um dia me deu essa ideia de alguém se sentindo sozinho, conversando consigo mesmo, conversando com o espelho. Foi essa inspiração, foi uma conversa que tive comigo mesmo dentro da minha cabeça”.

O projeto ofereceu duas oficinas de produção de documentário realizadas com e por alunos do ensino médio de escolas públicas. Eles aprenderam a história e linguagem do cinema, além de manusear câmeras e pilotar drones. Os filmes produzidos pelos adolescentes foram exibidos no último dia do evento. Aprendiz, realizado pela Legião Mirim, pode ser visto no canal do YouTube do Filma Bauru. Os curtas vencedores e participantes não estão disponíveis pelas plataformas do festival. 

Conheça os vencedores nas respectivas categorias:

Melhor Animação: Tardes no Escarafuncha (2022), de Franca, dirigido por Fernando Ferreira Garróz

Melhor Documentário: Marta – Consertadora de Guarda-Chuvas (2023), de Jacareí, dirigido por Dannyel Leite 

Melhor Ficção: Lugar de Ladson (2022), de Rio Claro, dirigido por Rogério Borges

Menção Honrosa: Nome Morto (2023), de Santos, dirigido por Bê Reis e Mayara Gomez 

Prêmio do Júri Popular: Quase ele (2022), de Taubaté, dirigido por Carolina Lobo e André Pires

Destaque Bauru: Duas para Uma (2022), de Bauru, dirigido por Raul Giunta 

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