Por Isabela Paulino Assis
No início do mês de outubro, o curso de Artes Visuais, da Unesp-Bauru, realizou o I Simpósio Amò. A palavra Amò tem origem na língua Iorubá e significa argila e cerâmica, artes que foram abordadas durante o simpósio. O evento teve como objetivo resgatar, por meio de artes de cerâmica, a ancestralidade e reforçar a decolonialidade.
“O simpósio nasce de um sonho de trazer para universidade um evento decolonial, com outros parâmetros para pesquisa. A fim de mostrar aos nossos alunos que há outras formas de artes, outras formas de pesquisar, a partir de parâmetros que não sejam eurocentrados, mas focados na cultura brasileira, nos povos originários e em tantos outros povos que vieram para cá, assim como os africanos que vieram como escravizados. E aqui esses povos construíram cultura que precisa ser vista, documentada e pesquisada”, explica Priscila Leonel, professora na Unesp e organizadora do simpósio.
O evento contou com oficinas, mesas redondas, rodas de conversa e performances artísticas. Ainda promoveu exposições como a “Ao que tem vínculos: Entrelaços”, que contou com obras dos docentes de Artes Visuais e foi exposta no Anfiteatro Guilherme R. Ferraz – “Guilhermão”. Priscila comenta sobre como as artes reforçam o vínculo ancestral: “a arte permite ao oprimido buscar suas raízes e discutir certas questões, olhar para si mesmo”.

Na finalização do evento, o grupo Ilú Obá de Min fez uma apresentação. Formado apenas por mulheres, o grupo trabalha por meio das percussões e da expressão corporal para conservar a ancestralidade do povo preto.
Ilú Obá de Min
O nome Ilú Obá de Min carrega o significado de “mãos femininas que tocam tambor para Xangô”. O grupo foi fundado em 2004 por Beth Beli, Adriana Aragão e Girlei Miranda, todas percussionistas. A associação é sem fins lucrativos e tem o objetivo de trabalhar as artes de matriz africana, afro-brasileira, com recorte de gênero
A presidente do grupo, Beth Beli, conta como a arte tornou possível uma conexão com sua ancestralidade. “A arte que eu aprendi há mais de 35 anos é preta, e foram essas artes que me conectaram com a minha ancestralidade. Com as minhas ancestrais, com os saberes milenares do berço da Humanidade África”. Beth ainda reforça que o Ilú Obá de Min valoriza o protagonismo das mulheres mais velhas da irmandade.

O grupo contou com uma plateia de 80 mil pessoas em um cortejo que realizou em São Paulo e todo ano procura homenagear uma mulher preta. “A cada ano, homenageamos uma mulher preta, que nos ensina, que nos inspira e potencializa as nossas ações diárias e gostamos de homenageá-las quando estão vivas, principalmente. É nesse momento que elas são cantadas e reverenciadas por todas as mulheres e assim mostrando a todas (os) o valor dessas mulheres para toda a sociedade brasileira”, diz Beth.
