Para economistas, dolarização não traria grande mudança, já que as transações comerciais com outros países já são feitas na moeda americana
Por Amanda Trentin
Com a vitória de Javier Milei nas eleições em 19 de novembro e a posse no dia 10 de dezembro, uma nova era política há de implantar algumas modificações na Argentina. Essa situação pode também propor novos acordos entre o país em questão e o Brasil, em especial quanto às importações e exportações, visto que o Brasil destina para a Argentina 5,3% de seus produtos.
Na avaliação de Vinicius Neder, jornalista e repórter do Jornal O Globo, o problema da dolarização na Argentina envolve quesitos domésticos. “Se algum problema doméstico provoca uma recessão, não seria possível baixar juros para aquecer a economia. Se o Fed [o banco central americano] sobe os juros por algum motivo doméstico dos EUA, a economia argentina vai esfriar, mesmo que esteja estagnada”, afirma.
Para Neder, se essa política for firmada de fato, haverá mudanças nas negociações entre Brasil e Argentina, isso porque, a demanda do segundo seria derrubada devido ao descontrole da inflação que a Nação enfrenta.
O jornalista entende que “se a dolarização estabilizar o vizinho, a demanda por bens e serviços brasileiros poderia aumentar ou parar de cair. Operacionalmente, a troca de moeda faria pouca diferença, pois as transações entre os dois países já são em dólar”.

Blocos de dólares que representam a ideia de Milei sobre a dolarização da economia argentina
A dolarização da economia argentina significa substituir o peso pelo dólar como moeda oficial do país. Então, com essa medida, a Argentina é impedida de fixar taxa básica de juros e se basearia no Fed.
Em outras vias, Paulo Gala, economista chefe do Banco Master e professor da FGV/SP aponta que o Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina, enquanto ela se posiciona em terceiro lugar entre os principais destinos de exportação do primeiro. Por isso, ele desacredita que haverá um possível estremecimento nas relações comerciais entre os dois países.
“A Argentina precisa do Brasil e da China, os dois maiores parceiros comerciais de destino de exportação. Os dólares que a Argentina ainda recebe tem a ver com o Brasil e a China”, diz.
Entretanto, o economista pensa que a inserção das medidas para o controle das problemáticas econômicas, em um primeiro momento, pode implicar em consequências de saldo negativo para o Brasil, mesmo que as trocas cambiais entre as nações já sejam em dólar.
“Para já, o ajuste que vão fazer para tentar controlar a inflação e cortar gasto público e os subsídios deve provocar uma desaceleração e até uma recessão, o que não seria bom para o Brasil”, explicita.
