Como o fandom da cantora lidou com sua passagem no Brasil

Por Clara Sganzerla

No dia 23 de junho de 2023, a cantora e compositora Taylor Swift anunciou as datas internacionais de sua turnê The Eras Tour, causando fortes emoções em seus fãs da América Latina. Com datas no México, Argentina e Brasil, o abalo tem motivo: o show conta com 3 horas de duração e é uma viagem através dos 17 anos de música da cantora, onde a norte-americana revisita seus nove álbuns de estúdio.

O espetáculo é um prato cheio para quem espera efeitos visuais, vocais, dança e muita emoção, mas é ainda mais especial para os os ‘Swifties’, os fãs da artista, que a acompanham desde cedo em sua carreira. Após sua passagem agitada no Brasil, os shows no Rio de Janeiro e São Paulo colocaram à prova o verdadeiro amor de fã e envolveram polêmicas que mudaram muitas opiniões sobre a cantora.

Sua apresentação de abertura foi dia 17 de novembro de 2023, no Estádio Olímpico Milton Santos – popularmente conhecido como Engenhão – e comportou, segundo dados disponibilizados pelo site oficial da The Eras Tour, mais de 60 mil pessoas. A expectativa era tanta que o fã-clube mobilizou-se para dar boas vindas de um jeito peculiar: uma camiseta referente ao clipe ‘You Belong With Me’ com os dizeres em inglês ‘Bem-Vinda ao Brasil’ foi projetada no Cristo Redentor no dia 16, data em que a artista desembarcou no país. 

 Foto: Rogério Coutinho / TV Globo

No entanto, ninguém contava com a onda de calor excessivo que atingiu a região e disparou os termômetros do Rio de Janeiro até os 42ºC. Luiza Martigli, estudante de 24 anos que mora em Bauru, deslocou-se até a cidade apenas para o show e confessou que estava muito animada para a experiência.Foram muitos e muitos anos criando expectativas pro dia que eu fosse ver um show da Taylor, eu não esperava nada menos que fosse o melhor dia da minha vida e sair de lá com um sonho realizado. Além de que, antes de ir eu, já tinha ouvido outros relatos de pessoas que foram no Engenhão para shows e amaram a experiência.”

Ao chegar até o Estádio, porém, a expectativa foi se distanciando cada vez mais da realidade. Segundo Luiza, a organização estava péssima, as filas estavam uma confusão, os funcionários estavam totalmente despreparados e era muito difícil comprar água ou qualquer outro alimento. “Até às 19h29, eu estava tendo um dos piores dias imagináveis. Mas, às 19h30, quando a Taylor pisou no palco, virou o completo oposto e se tornou o melhor momento da minha vida.”

Foram 10 anos de espera até o momento em que a cantora subiu ao palco, e essa era a realidade de muitos que estavam presentes. O que movimentou os Swifties através das dificuldades que colocaram-se no caminho foi o amor nutrido por anos de admiração e identificação. Os fãs, infelizmente, não contavam com tanto despreparo da organização e produção do evento, como foi visto durante o dia 17/11 e resultou, tristemente, na morte de Ana Benevides. 

O falecimento de Ana mobilizou fãs de todas as redes sociais e de todos os cantos do país, impactando na distribuição de águas durante as filas do show do dia 18 e em uma vaquinha online para custear o transporte do corpo de Ana até sua cidade natal, que gerou muita indignação quanto ao comportamento da empresa Time For Fun e de Taylor também. O silêncio tornou-se ensurdecedor. 

Até então, o show não havia sido adiado, e a entrada dentro do Engenhão ocorria normalmente para o segundo show. Uma das fãs que estava presente no dia, e que preferiu não se identificar, afirma que o estádio estava lotado e que faltava menos de uma hora para a apresentação de abertura da Sabrina Carpenter, quando os burburinhos de adiamento passaram a correr pela Pista Premium.

Print do comunicado que Taylor publicou nos stories de seu Instagram.

De acordo com ela, foram praticamente 20 minutos de diferença entre a postagem da cantora no Instagram, que a maioria do público não conseguiu acessar pela falta de conexão com a internet, e o comunicado oficial em voz dentro do estádio. “Foi uma choradeira, um caos. Tinha muita gente chorando, muitas mesmo. Eu fiquei bem revoltada assim, com muita raiva. Ela tinha esperado todo mundo entrar no Estádio para falar para as pessoas: olha, eu não vou cantar, galera”. 

O show foi remarcado para segunda-feira, dia 20, e algumas outras medidas para mitigar os riscos devido ao calor extremo foram tomadas – como postergar uma hora o início das apresentações e, claro, permitir a entrada de garrafas de água flexíveis dentro do Estádio. O que fez falta para os fãs, no entanto, foi um pronunciamento oficial da cantora em suas redes sociais ou durante os espetáculos. 

Para Amábile Zioli, estudante de 20 anos, o posicionamento da cantora foi muito falho. Apesar de não acompanhá-la ativamente por não curtir muito o estilo musical, ela teve conhecimento das situações através das redes sociais e dos veículos de notícia. “Por se tratar de uma situação trágica, como a morte, acredito que ela deveria ter deixado seu lado humano transparecer mais, afinal, ela era reconhecida pelos fãs pela proximidade, intimidade e empatia”, destaca.

Foto tirada no dia 26/11, oito minutos antes de Taylor entrar ao palco e iniciar sua última apresentação no Brasil. (Foto: Clara Sganzerla)

Após a realização dos shows na cidade maravilhosa, Taylor voou até São Paulo para realizar as três apresentações finais da turnê no Brasil. Em seu último show no dia 26 de novembro e após o pronunciamento oficial da T4F, foram vistas fotos da família de Ana Benevides presente no Estádio Allianz Parque e também com a artista em seu camarim. Um final um pouco menos triste para uma situação totalmente trágica que desenhou-se durante sua passagem no Brasil.

Luiza Martigli afirma que, apesar de não entender o porquê Swift não estava se pronunciando, hoje, pensando com um pouco menos de emoção, entende a postura que ela teve, apesar de desejar que ela tivesse feito algumas coisas diferentes. 

Quando alguém torna-se fã, é muito difícil desvencilhar-se da imagem e das expectativas que rodeiam essa figura pública. Porém, para os mais céticos e maduros como Luiza, é possível criticar e, ainda sim, admirar na mesma medida. A psicóloga Maiara Lourenço ressalta que a admiração pode ser explicada psicologicamente como uma resposta emocional a características percebidas como positivas em uma pessoa, e que relaciona-se também com a nossa necessidade de pertencimento e influência social. 

Após muitos anos de espera, diversas críticas, muitos aplausos e shows que tornaram-se inesquecíveis para diversos fãs, Taylor fechou sua passagem ao Brasil dia 26/11 com as músicas surpresas “Say Don’t Go” e “it’s time to go”, uma metáfora linda para os sentimentos mistos que todos estavam sentindo no momento. Os Swifites gritaram “I would stay forever if you say: Don’t go” (Eu ficaria para sempre se você dissesse: não vá), enquanto Taylor respondeu “And you know, in your soul, when it’s time to go” (E você sabe, na sua alma, quando é hora de ir).

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