Questão que protagoniza as discussões sobre IA no ramo artístico gera opiniões contrárias entre especialistas

Por Isadora Sousa

A arte, ao longo da história, tem sido uma narrativa visual de nossa jornada coletiva como sociedade. Das primeiras manifestações artísticas às criações contemporâneas, cada época deixou sua marca única no desenvolvimento da expressão humana. 

Novas ferramentas e técnicas proporcionaram avanços notáveis que moldaram e redefiniram o conceito de arte, demonstrando como a criatividade e a inovação podem ser os principais meios de impulsionar a busca por diferentes modos de se expressar e de se comunicar com um coletivo.

Conceitualmente, a produção artística é definida como “produção consciente de obras, formas ou objetos, voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana”. Atualmente, a tecnologia emerge como o marco contemporâneo que redefine os paradigmas da arte no século 21. 

O advento da Inteligência Artificial (IA) impactou significativamente setores diversos da sociedade, e o mercado artístico não se isentou de ser um deles. O uso de IA na produção de imagens é recente, e constantemente torna-se alvo de questionamentos e críticas. Seria possível às novas tecnologias tomarem o lugar dos artistas e limitarem a diversidade da expressão humana? 

Esse debate pode tomar muitas formas, mas frequentemente retorna a pergunta de sempre: produções desenvolvidas por IA podem ser consideradas obras de arte? De acordo com Marcelo Conrado, artista visual e professor da disciplina “Direito e Arte”, do curso de graduação e do programa de pós-graduação da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, “já existem outras tecnologias anteriores à Inteligência Artificial que conduziram obras de arte”. Como exemplo disso, ele cita uma exposição no MoMA, do Refik Anadol, um artista que fez uso do acervo de imagens do MoMA para, a partir disso, utilizar a IA e produzir suas obras. 

“Então, é mais um instrumento que os artistas podem utilizar não só na arte, na ciência, enfim, em vários outros campos do conhecimento e que pode se transformar em obras de arte”, declara o artista.

Já Joedy Bamonte, professora do Departamento de Artes e Representação Gráfica da FAAC-UNESP, discorda. “Entendo que, se forem interpretadas dentro de um nicho específico, como produções feitas por IA, devem representar um tipo de criação nesse nicho, talvez como arte artificial, quem sabe. Mas, jamais se igualando ou sendo classificadas como produções feitas pelo ser humano”, dispara Joedy.

A diversidade na arte quebra barreiras, desafia estereótipos e inspira inovação. Ao proporcionar visibilidade para vozes marginalizadas, ela valida e expressa a multiplicidade da raça humana. A representação inclusiva na arte não apenas enriquece o panorama artístico, mas também contribui para uma sociedade mais aberta, inclusiva e empoderada.

Quando questionada se a Inteligência Artificial proporciona um risco à diversidade artística, a pesquisadora discorda da possibilidade. “Expressões artísticas são fruto da complexidade do ser humano. Não acredito que as IAs podem limitar as expressões artísticas”, pontua.

O artista visual, que recentemente apresentou uma coleção de obras no Museu Municipal de Arte de Curitiba (MuMA), intitulada “O Lugar do Outro”, produzidas com o auxílio de Inteligência Artificial, acredita que a diversidade do olhar humano pode estar sim ameaçada.

“Para mim esse é um grande risco, eu observei isso quando produzi essa exposição. Como a IA se alimenta de bancos de imagens, de fotografias, essas imagens estão principalmente no contexto de países do norte, Estados Unidos e Europa. Então, quando você quer produzir imagens que tenham como utilizadores brasilidade, ou um indígena brasileiro, ou algo que que seja muito específico do Brasil, há uma dificuldade imensa de se conseguir isso”, finaliza Marcelo.

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