Por Flavia Tofoli
Narciso talvez não tenha encontrado seu fim trágico simplesmente por apreciar sua própria imagem, mas sim por ter se enganado quanto à sua própria perfeição.
O filme norueguês “Sick of Myself” (2022), dirigido por Kristoffer Borgli, oferece uma crítica pertinente ao narcisismo contemporâneo. A trama segue o casal Signe (Kristine Kujath Thorp) e Thomas (Eirik Sæther), que competem entre si pela atenção do mundo ao seu redor. Enquanto Thomas anseia por ser admirado por sua suposta “genialidade” artística, aspirando a uma vida retratada em capas de revistas e glamour, Signe busca pela atenção compassiva das pessoas ao seu redor, especialmente a de Thomas.
Nesse longa, Kristoffer Borgli explora a dinâmica competitiva na busca pela atenção, utilizando eventos cotidianos para ilustrar os comportamentos delirantes associados ao narcisismo na sociedade. O cineasta destaca como as redes sociais desempenham um papel significativo para impulsionar as aspirações grandiosas individuais.
Em mão dessa premissa, Borgli evidencia que a morada do delírio se encontra entre o almejo incessante pela fama e a busca pela atenção. Ao longo do filme, Borgli explora essa dinâmica por meio de cenas que alternam entre projeções fantasiosas dos desejos dos personagens e a realidade. E deixa o telespectador sempre desconfiado, pois a versão de uma história narrada por um narcisista, nunca é a versão dos fatos.
Para conduzir a competitividade pela atenção entre os protagonistas da trama, o cineasta utiliza de um jogo dinâmico de câmeras. Em muitas cenas, a disputa chega a se assemelhar a um jogo de ping-pong, no qual a cena rapidamente se desloca entre Signe e Thomas. Em outros momentos, a filmografia opta por destacar os personagens no meio das reações daqueles que estão ao redor deles, seja pelo choque ou pela admiração que suas atitudes possam gerar.
O filme explora nuances do gênero comédia dentro de um drama, pois não se trata de um filme de alívio cômico, tampouco um típico filme encontrado numa sessão da tarde. É através do choque provocado por ações que ultrapassam o bom senso humano, levando o espectador a um sentimento de vergonha alheia, que nos pegamos rindo diante da barbárie e do ridículo.
As atuações foram, sem dúvida, a chave para alcançar esse efeito. Kristine Kujath Thorp, certamente, se destaca no filme. Ao mesmo tempo em que é comedida, sua potência é extrapolada pelos episódios de sandices que vão ocorrendo ao longo da narrativa de sua personagem.
Apesar disso, o longa também encontra problemas de repetição no desenvolver da narrativa, o que de certa forma atrapalha toda a sua potencialidade. Contudo, “Sick of Myself”, oferece uma crítica pungente à sociedade de imagens, questionando a busca incessante pela fama e atenção. O filme está no catálogo da Mubi e vale a pena ser apreciado.
Filme: Sick of Myself (2022), Noruega/Suécia.
Direção: Kristoffer Borgli
Roteiro: Kristoffer Borgli
Duração: 95 min
