Foto: Davide Bonazzi

Por Amábile Zioli

A independência é um objetivo comum entre a maioria dos jovens. O pensamento de não depender mais de seus pais, ser o chefe de sua própria vida e decisões e responsável por seus atos é tentador. Conforme a maioridade se aproxima, a simples possibilidade de se ver sozinho no mundo se torna aterrorizante.

Lembro como se fosse ontem: minha primeira noite morando sozinha. Sair de casa sempre foi um sonho, e a faculdade sempre foi a forma mais fácil de alcançá-lo. Depois que passei no curso de jornalismo, em uma cidade a mais de 200km de casa, tudo se tornou cada vez mais real: eu estava indo embora. 

A primeira visita à cidade foi emocionante. O sentimento de alegria não saía do meu corpo por um minuto sequer, e meus pais compartilhavam da mesma sensação. Buscando pelo apartamento ideal, conhecemos lugares, formamos nossa primeira impressão da cidade, quase 15x maior do que a nossa de origem, e tivemos a sorte de encontrar o que seria a minha nova casa pelos próximos anos.

A segunda visita à cidade foi burocrática. Resolver a papelada, a parte chata da mudança. Ainda sim, conseguimos passear mais um pouco e conhecer a faculdade, foi um momento indescritível: ali seria o local onde eu, diariamente, frequentaria pelos próximos anos.

A terceira e última visita à cidade foi dramática, em todos os sentidos da palavra. Era a despedida. Ao mesmo tempo em que aquela era a última visita, era a primeira vez que meus pais me levavam oficialmente para meu novo lar. Aquela era a primeira vez em que eu dizia “tchau” aos meus pais em um domingo à noite. Mas, apesar das emoções à flor da pele, foi uma noite tranquila. Afinal, a ansiedade para o início de uma nova fase da minha vida era maior do que todo o sentimento causado pela despedida.

Morar sozinho pode parecer um grande sinal de independência, e realmente é, dependendo do ponto de vista, mas é apenas o primeiro passo. A independência completa é uma caminhada que não pode ser completada em dois anos, exige muito mais. E, talvez, realmente deva permanecer incompleta. 

A independência pode ser superestimada. É claro, ter seu próprio sustento financeiro é o sonho, além de suas próprias responsabilidades e deveres. A independência a que me refiro é a emocional. Ter uma parte de si no seu, agora, antigo lar, é o que dá sustentação à nova vida. Se sentir sozinho é normal e parte essencial do processo de independência, mas a saudade é o que me ajuda a aguentar até o final do mês. Não quer dizer que não viva o agora, muito pelo contrário. O agora deve ser vivido e a independência tem papel fundamental nesse processo.

É um grande paradoxo. Ao mesmo tempo em que sou independente para viver minhas próprias experiências sozinha, em uma cidade diferente, com pessoas diferentes, trago a percepção de que tudo isso foi graças a idealização da autonomia. Por anos sonhei com esse momento, então, enquanto o vivo, aproveito cada segundo. A frustração pode ser um obstáculo difícil para pessoas como eu, que sempre colocaram muitas expectativas nessa fase da vida. Cuidar para não pender totalmente para o mundo intangível é necessário para que o desapontamento não tome conta: a independência não é aquela maravilha. Claro que quando idealizamos, deixamos de lado as partes ruins, nosso foco vai totalmente para inventividade, é o momento de divagarmos, irmos para onde gostaríamos de estar.

Na caminhada em busca da autonomia, muitas vezes percebemos que não queremos realmente ser autônomos. O conforto da dependência é desmotivador, mas o pensamento de que podemos ir muito além do cômodo é o combustível que faltava para a caçada incessante pela independência, seja quais forem os seus meios.  

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