Se pensar com certa frequência sobre um império que atingiu seu auge há quase 2 mil anos fosse crime… muita gente não estaria aqui para contar história
Por Ágata Bueno
Com que frequência um homem pensa sobre o Império Romano? Literalmente, para e pensa sobre uma civilização inteira que caiu em 476 d.C. – algo extraordinário e, ao mesmo tempo, desimportante. Quase soando como insanidade, uma ideia que se confunde com outra meia dúzia de neurônios.
O tópico teve início com um reels de uma conta sueca no Instagram (@gaiusflavius), dizendo que as mulheres não tinham noção do quão perto estavam os homens e o Império Romano (na cabeça deles, é claro). A hashtag Roman Empire rendeu bilhões de visualizações no TikTok. E milhares de relatos no X.
A primeira publicação da trend nos incentiva a perguntar sobre as figuras masculinas ao nosso redor sobre o assunto. Os vídeos que circularam nas redes sociais mostraram que, para o espanto de muitas mulheres, o império é uma reflexão constante entre alguns homens.
O tipo de coisa que te faz pensar… Por quê? A grandiosidade e a simbologia extensa podem até se assemelhar com os objetivos reais de um sujeito. Talvez a imagem de um gladiador, um imperador ou um comandante militar venha junto com o pensamento do império que durou mais de 500 anos.
A verdade é que ainda podemos ver os reflexos da antiga civilização romana em todo o lugar. O direito, a militarização, a religião, o idioma e a arquitetura remetem à história que começou com dois meninos que foram alimentados por uma loba. Os fatos, entretanto, não explicam os porquês.
Talvez seja da natureza feminina tentar encontrar uma razão. O instinto masculino, se é que ele existe, é apenas lembrar. Lembrar de uma civilização, lembrar de conquistas; lembrar que, de alguma forma, ele se assemelha com os romanos imperialistas.
Acordar. Lembrar. Comer. Lembrar. Dormir. Sonhar. Repetir.
Um único e singular pensamento constante, por mais aleatório que seja, é um ato troglodita comparado à montanha russa de ideias e questionamentos que vagueia na cabeça de uma mulher num período de 24h. Ou mais. Ou pior: num milésimo de segundo.
Talvez seja porque meninos e meninas saem de planetas diferentes. Pelo menos de acordo com a premissa da obra notável de John Gray, que explica como “as divergências podem surgir entre os sexos, impedindo o florescimento de relações saudáveis e duradouras”. Enquanto eles vêm de Marte, elas nascem em Vênus.
Não estamos falando de conciliação, entretanto. Por mais semelhanças que os dois sexos tenham, de acordo com a Psicologia, sair de mundos diferentes parece ser uma explicação plausível para cada um dos “impérios romanos”. Ou não. Tentar buscar na exterioridade é um ato típico feminino nessa história de império.
Falando em mulher… Quem são? O que fazem? Onde vivem? O que comem? No que pensam? Será que elas possuem o próprio império? Quem sabe elas preferem pensar em outras civilizações; quem sabe elas pensam em deusas, no lugar de imperadores. Ou, porventura, dedicam seu tempo às musas dos trovadores e poetas portugueses.
Afinal, o quanto de império existe dentro de cada uma de nós?
Mais que um momento na História, uma soberania ou um reino, a frequência com que as relações, as conversas, as perdas e as conquistas percorrem a mente de uma mulher é o equivalente ao fervor de todas as guerras púnicas juntas.
O que nos diferencia é não ter a singularidade do pensamento. Uma conversa, um afastamento, um toque ou um olhar. Tudo é assunto, tudo é muito, tudo é pouco. O que pode ser um exagero, de repente é a falta de tudo. A feminilidade é o excesso, a multiplicidade e o fervor.
Do destino de nossas mães às lembranças de infância, ao caminho de outras vidas que se interligam às nossas, à vontade de ser e estar, ao ímpeto de ser mulher. Nossos impérios não são romanos, são nossos e de mais ninguém.
No fim, os meninos não serão os gladiadores e imperialistas que tanto pensam. Eles serão meninos. Enquanto as meninas serão mulheres.
