Core, aesthetic, trend… em terra de cinnamon cookie butter hair, quem tem apenas um cabelo castanho iluminado está longe de ser rainha!

Por Ágata Bueno

Entre strawberry girl summer, barbie core e clean girl aesthetic existem apenas duas constâncias: a rapidez e a superficialidade. Ambas características também presentes nos feeds de qualquer aplicativo e que, num estalar de dedos, desaparece e dá lugar a outros hábitos viralizados. A nova função das redes sociais parece ser impulsionar o surgimento de novas estéticas que combinem nomes criativos e um belo incentivo ao consumo imediato. Seja o estilo baseado num morango ou no simples fato de parecer limpa. Os sufixos “core” ou “aesthetic” não são novidade no mundo da moda e da beleza; e, definitivamente, não possuem intenção alguma de parar em uma só tendência. 

Elas podem nascer de um vídeo no TikTok de alguém que está gravando a própria rotina pela primeira vez ou simplesmente de uma selfie postada no Instagram de alguma celebridade. As microtendências são comportamentos específicos, menos duradouros e mais sensíveis a acontecimentos pontuais. E que existem desde muito tempo antes do boom das redes sociais. Surgindo de subculturas, movimentos coletivos, influenciadores ou mesmo de designers, essas tendências de curta duração influenciam moda, beleza e lifestyle – com um nome diferente a cada semana. 

Todos os dias, os feeds são inundados de novidades no mundo da moda, beleza e lifestyle
(Fonte: Pinterest)

O que antes começava nas passarelas das semanas de moda pelo mundo e que chegava às vitrines antes mesmo de passar pelos consumidores ansiosos, hoje é simplesmente uma explosão. Tão rápido quanto surgem, as microtrends desaparecem – como os quinze minutos de fama de uma forma de se vestir, se maquiar, de fazer as unhas, arrumar o cabelo e se portar diante dos outros. São diferentes realidades e maneiras de ver o mundo que se sobrepõem, se mesclando à vida de quem está do outro lado da tela. Um dos grandes responsáveis, o TikTok, também conhecido como “a rede social do lado”, é o espaço que possibilita a interação de mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo todos os dias (com suas rotinas e aesthetics). 

E como falar de microtendência sem citar a queridinha das marcas que estão de olho no próximo estilo viral? Hailey Bieber, uma das maiores referências de beleza e lifestyle atualmente, tem ditado tendência a cada postagem para seus mais de 50 milhões de seguidores (apenas no Instagram). Tudo o que a modelo toca vira ouro. E não é por acaso. Muitas das trends que ela divulga nas redes sociais estão associadas à divulgação de um produto de sua marca, a Rhode, e um nome curioso, em geral ligado à comida – como as unhas glazed donut, a maquiagem strawberry ou o cabelo cinnamon cookie butter. São alguns títulos cativantes, simples até, que já nascem com uma hashtag e faturam números altíssimos. Afinal, ninguém quer ficar de fora daquilo que é visto. Muito menos do fenômeno das Hailey-trends

Enquanto Bieber dita tendência a cada aparição nas redes sociais, o mundo das microtrends se redefine após toda e qualquer viralização. E, inevitavelmente, a cada adição a extensa lista de novos estilos de consumo, as problemáticas por trás de tantos cores também buscam seu lugar nos holofotes.

Tendência após tendência controla o ritmo de produção de novas peças, novos estilos e novas personalidades. Entre o prejuízo ambiental devido às produções em massa de uma estética que rapidamente se esgota e a perda gradual da autenticidade devido à uma crescente apologia às aparências, existe a questão de que grande parte das tendências são apenas estilos já vistos anteriormente com nomes diferentes. 

Tudo o que Hailey toca vira ouro, ou melhor, vira “golden special money profit” (Fonte: Instagram)

O resultado final é uma trend  por semana e prejuízos com um prazo de validade bem maior. Os impactos ambientais, a exploração de subculturas e os reflexos na saúde mental competem com os altos números de um mercado crescente, onde o estilo de vida é mais importante do que a vida em si. 

Embora os problemas existam, o mundo das tendências passageiras possui também um lado acolhedor. Navegar entre estilos, conhecer tendências e experimentar coisas novas parece ser uma maneira eficaz de encontrar seu próprio estilo dentro de um mar de possibilidades. Um vídeo viral atrás de outro, com um tema diferente nascendo num piscar de olhos, abre espaço para um mundo sem fronteiras. 

Querendo ou não, os movimentos online permitem que as pessoas se conectem e se identifiquem, transformando a barreira entre um influencer e um espectador em uma linha tênue, quase imperceptível. Entre uma microtendência e outra, ainda há espaço para brincar de faz de conta até que você encontre uma tendência que te pareça ter sido feita sob medida.E, afinal, ainda existe espaço para originalidade? Entre encontrar seu próprio estilo e financiar uma indústria altamente poluente, o universo das microtendências se mostra muito abrangente. E nada tímido. Os sufixos que acompanham nomes criativos não são inofensivos e nem passam despercebidos. As gigantes empresas de marketing estão apenas à espera por mais uma tendência, mais um core e outro aesthetic, sendo ele original ou mais um estilo reciclado. Originalidade é saber se aventurar, tirar o que há de melhor em cada trend e esperar – quem sabe a sua vida não vira uma estética?

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