Por Luíza Lopes
Se o processo de desencantamento fosse uma ponte, ela seria muito longa e estreita. É um caminho que percorri durante os últimos meses, analisando e refletindo o quanto eu já havia esperado e nada acontecido, como se a minha vida estivesse parada aguardando a chegada dele.
Na ponte, é como se eu experimentasse tudo novamente, cada momento, cada lembrança, procurando motivos para ficar, ou ir. Na primeira vez que pisei nela eu não aguentei, não acreditei estar passando por aquilo, tendo que me questionar de algo que era uma certeza durante anos. A culpa me dominou, como se eu estivesse traindo a nossa cumplicidade por sequer cogitar algo assim, mas já na ponte, eu teria que cruzá-la.
A cada passo, mais próxima eu estava do fim. Lá eu tomaria uma decisão: ficar ou sair. Fui assumindo minhas certezas e me apegando a elas. Sabia que não gostaria de ficar sozinha, eu amo ser amada e desejada e poder retribuir esse sentimento. Gosto também de ter com quem conversar, gargalhar e chorar, o sentimento de acolhimento é muito especial para mim. Esses pensamentos me mostraram o quanto eu tenho medo da solidão, o que me é estranho pois eu me amo muito para temer a minha própria companhia, talvez eu não me veja da forma que sou, ou gostaria de ser.
Quando olhava para trás, percebia que a caminhada só era tão extensa pelo meu medo de não encontrar outra pessoa para dividir a minha intimidade. Não era justo uma história tão bonita quanto a nossa acabar porque eu nos levei à exaustão. Foi aqui que eu parei. Já não estava no meio do trajeto mais, mas o fim ainda parecia muito distante. Não tinha para onde correr, não podia voltar atrás e não queria ver o que me esperava do outro lado.
Eu me permiti existir e refletir, levei o tempo que precisava. Conversei com outras pessoas e abri meu coração que estava remoendo tudo isso sozinho há tempos. Foi quando me apercebi de que solidão é uma escolha e que o medo que a permeia é fruto da minha própria insegurança de que a minha existência só é validada se o outro assim fizer. Eu preciso ser vista para existir, eu preciso ser amada para sentir. Nunca imaginei que um caminho sobre nós diria tanto sobre mim.
Como sempre, me arrastei demais, mas posso dizer que, no fim, eu abracei a solitude. Foram muitas noites em claro, aquelas em que você pode chorar, e como eu chorei. Hoje eu já não choro mais, inclusive me sinto muito bem, aliviada. Do outro lado da ponte eu encontrei a leveza de quem tirou o fardo de uma decisão das costas.
Me doeu ver ele tão arrasado pela minha decisão sobre nós dois. O que eu levei meses para digerir ele precisou engolir inteiro de uma vez. Eu sabia que ele chorava e se questionava, e aquilo já não era mais sobre nós e por isso me abstive. Fui viver sozinha, pela primeira vez em muitos anos. Senti coisas que nem lembrava como eram, como o frio na barriga antes de me encontrar com alguém ou a ansiedade em compartilhar experiências da minha vida que eu não falava mais por já serem sabidas.
Hoje, sou livre para poder olhar para as pessoas como oportunidades, igual livros de um sebo que estão apenas aguardando para terem suas histórias redescobertas por um leitor qualquer. E eu não nego que sebos são uns dos meus lugares favoritos.
