Vestibulandos enfrentam tensão e incertezas durante a temporada de provas, enquanto debates sobre o fim dos vestibulares ganham destaque

Por Giovana Keiko

De novembro a fevereiro é uma fase tensa para os vestibulandos, fazendo provas praticamente todo final de semana, aguardando resultados, para ver se o esforço e dedicação de um ano inteiro valeram a pena para terem a chance de ingressar no ensino superior. Essa é a realidade de muitos brasileiros. Neste ano de 2023, houve 3,9 milhões de inscritos no Enem, mas 1,2 milhões não compareceram para realizar o exame. Já a Fuvest, que possui um dos vestibulares mais tradicionais do país, obteve 114.434 inscritos, para 8.147 vagas apenas.

“Defendemos o fim do vestibular e dos processos seletivos para ingressar numa universidade”, diz Jonas da Rocha, Presidente da FENET, Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico, ele complementa que somente um debate sobre o fim do vestibular não é suficiente para resolver o problema.

Atualmente, o Governo do Estado de São Paulo vem aplicando o ‘Provão Paulista’, que é uma prova aplicada durante os 3 anos de ensino médio em escolas públicas, e para os estudantes de escolas particulares, basta se inscrever. Os estudantes têm a possibilidade de escolher quais universidades irão concorrer, não é obrigatória a escolha de todas as opções, fica a critério do estudante. O primeiro grupo é formado pelas estaduais, USP, Unicamp e Unesp: é possível selecionar 3 opções de curso, em duas das universidades disponíveis, em qualquer câmpus, para ingresso no 1º semestre. Ou seja, dois cursos na USP e um na Unicamp, ou um na USP e dois na Unesp. 

No segundo grupo, formado pelas Fatecs, é possível selecionar até 5 opções de cursos, com ingresso no primeiro semestre. E no terceiro e último grupo, da Univesp, podem ser selecionadas até 3 opções de curso, para ingresso no segundo semestre.

“Todas as formas são excludentes, uma vez que o número de vagas nas Universidade públicas é menor que o número de alunos habilitados a frequentá-las. Uma vez que essa seleção é impositiva, acredito que avaliações continuadas, ao longo de todo o ensino médio, tendem a ser mais eficientes e mais justas para selecionar os alunos “, diz Guilherme Lucas, docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. 

Segundo a última pesquisa feita pelo MEC, Ministério da Educação, 8.033.574 alunos estão matriculados no ensino superior. O número supera o de 2014 em 2,5%, quando havia 7.839.765 matriculados. Atualmente, são ofertados 33 mil cursos de graduação em 2.364 instituições de ensino superior.

“Com o cenário atual, em que o investimento em universidades para ampliar sua infraestrutura e corpo docente a fim de comportar uma carga elevada de novos alunos não é o foco da política, a aplicação dos vestibulares se mostra a forma mais eficiente de permitir que cidadãos tenham acesso ao ensino superior”, relata João Vitor Souza, estudante de Ciência da Computação da UTFPR. 

O estudante ainda ressalta que permitir a entrada de grandes quantidades de alunos nas faculdades sem a estrutura necessária para tal, diminuiria gravemente a qualidade do ensino e da utilização das instalações internas das universidades, extrapolando o limite de alunos por laboratório, por exemplo.

Alice Quirino, estudante de publicidade e propaganda na Esamc, em Santos, discorda que os vestibulares sejam excludentes: “acho que quem se dedica mais, consegue entrar. Aqueles que fazem um cursinho melhor, ou realmente fazem questão de estar na faculdade pública, podem fazer o vestibular mais vezes até alcançar seu objetivo, não acho que isso seja injusto, até porque desta forma toda a classe estará alinhada no mesmo nível de conhecimento”.

O Censo aponta que das 6,1 milhões de novas vagas em instituições públicas e privadas de ensino superior, somente 42,1% estão preenchidas e 13,5% das vagas remanescentes foram ocupadas. Isso indica a pouca eficiência do sistema.

“Há estudantes que nem sonham em poder estar nesses lugares, tão pouco se inscrevem porque acham que não vão passar, acreditam que a universidade não é local para si e até mesmo que a faculdade pública é paga” conta Jonas ao falar do acesso à universidade pública. 

Cotas

“É importante destacar que nas avaliações mais recentes, o desempenho dos alunos cotistas nas Universidades públicas paulistas é o mesmo dos não-cotistas. Esses resultados evidenciam que com práticas adequadas de ensino e aprendizagem, associadas à políticas afirmativas de manutenção desses alunos até o final da graduação, o sistema de cotas é uma importante ferramenta de combate à desigualdade social” diz Guilherme Lucas.

Em entrevista, Jonas conta que a UFRGS é a única universidade no Brasil que nunca implementou a lei de cotas, que existe no país inteiro. A Federal do Rio Grande do Sul analisa os documentos dos estudantes por anos e nunca de fato o matricula. Criaram uma modalidade de matrícula que não é a homologada, e sim provisória. Em 2021, eles publicaram um “Termo de cancelamento de Matrícula Provisória”, no qual afirmava estar desligando aproximadamente 200 estudantes que haviam ingressado na instituição através da política de cotas.

“Aconteceu um caso de uma estudante de direito, ela fez toda a sua graduação, conseguia acessar o restaurante universitário, participava das aulas, mas ela não era uma estudante da UFRGS, porque ela não tinha uma matrícula homologada, e ela tinha passado no vestibular. Na hora de receber o diploma, ela não conseguiria se formar porque eles ainda estavam analisando a documentação para ingressar na universidade”, conta Jonas, sobre a política de cotas na Universidade do Rio Grande do Sul.

Para estes estudantes não basta apenas entrar na universidade, mas também permanecer. De acordo com João Vitor Souza muitos alunos desistem da formação em diversos estágios de sua vida acadêmica, e tratar estes casos é o meio ideal de garantir a permanência do máximo de alunos possível, seja por meio de bolsas de auxílio estudantil, disponibilidade de projetos de pesquisa, acompanhamento psicológico na faculdade, todas essas são possíveis etapas a serem cumpridas para estar mais perto de solucionar estes problemas.

“O que a gente defende na Fenet, é que a universidade seja pública de qualidade e para todo mundo. Eu não deveria precisar de uma modalidade para ingressar, o certo seria como nas escolas estaduais, que basta se inscrever. Para isso temos que debater mais investimentos para educação, para que tenhamos mais vagas, mais professores e universidades públicas, é uma rede educacional inteira que a gente não consegue manter por conta de baixo investimento”, finaliza Jonas sobre processos seletivos para ingresso nas universidades.

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