Nova estrutura curricular pode reduzir as chances de ingresso em universidades públicas e gera manifestações em todo o país
Por Giovana Keiko
Atualmente, o novo Ensino Médio vem sendo implementado nas escolas de todo o Brasil. O projeto de lei começou em 2017, no governo de Michel Temer, e começou a ser implementado em 2022, a previsão é que até 2024 todas as escolas adotem esse sistema. Prevê-se 1200h para serem distribuídas entre as disciplinas: Matemáticas e suas Tecnologias; Linguagens e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; além das disciplinas que são flexíveis e ficarão reservados para os itinerários formativos, dedicados à formação técnica e profissional.
“A questão do novo ensino médio é complicada justamente por ser uma coisa que veio de cima para baixo, fomos excluídos desse debate. Nós falamos sobre a reforma do novo ensino médio, mas ela é uma reforma de toda educação”, diz Jonas da Rocha, Presidente da FENET, Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico.
Além disso, não necessariamente os professores necessitam ter um diploma de graduação na área para lecionarem as disciplinas. “Ela flexibiliza através de uma prática, o Notório Saber, que não necessariamente para lecionar, o profissional precisa ter uma formação na área. Então basta aplicar um exame para saber se o profissional tem conhecimento mínimo para dar uma aula de português, matemática, de história, isso acaba destruindo a educação”, complementa Jonas.
Nessas disciplinas de práticas formativas, os professores que já atuavam nas escolas, costumam ter que aplicá-las, Jonas conta em entrevista, que em sua cidade, em uma dessas matérias, a professora chegou a dar aula de tarô.
Manifestação na Avenida Paulista contra a reforma do Ensino Médio Foto:Reprodução/ TV Globo
Março de 2023 foi marcado com grandes manifestações por todo país, quando tornou-se obrigatório o novo ensino médio, pediram que fosse revogado imediatamente, o que não aconteceu.
“Existe uma grande contradição, porque eles dizem que querem ampliar o ensino técnico, mas o que acontece mesmo é um ataque aos Institutos Federais. Aqui no Rio Grande do Sul, teve um campus que fechou por 6 meses porque não tinha como pagar sua estrutura. Creio que se for para debater um novo modelo de ensino médio, que seja debatido com os estudantes, e se é para ser debatido alguma reforma que seja das escolas que estão caindo aos pedaços” Declara Jonas sobre o investimento na educação.
Vem sendo debatido no congresso, uma reforma da reforma, para alterar algumas coisas que não vem dando certo e carga horária. Isso não muda a proposta central que desarticula e desagrega inclusive estudantes que já estão na graduação, porque se não é necessário ter uma formação na área para lecionar, na prática qualquer um pode ocupar este espaço.
Sobre os vestibulares tradicionais e o Enem, apesar de terem sido prometidas mudanças, até agora não há previsão de alteração dos conteúdos da prova. Assim, os estudantes saem prejudicados. “O estudante que não tem uma aula de história, está tendo uma prova de história no Enem e acaba que isso dificulta cada vez mais estudantes pobres, em especial estudantes negros, de ingressarem numa universidade”, afirma Jonas, sobre forma de ingresso na universidade.
