Estímulos do consumo excessivo de conteúdos de guerra prejudicam a saúde mental
Por KEVILIN ALVES

O conflito entre Israel e Hamas já dura mais de um mês, com atualizações constantes sendo feitas em todos os canais de comunicação. O estímulo gerado a partir da exposição às informações e imagens de guerra pode surtir efeitos negativos na saúde mental de qualquer pessoa, ainda que esteja do outro lado do mundo.
Imagens naturalmente têm o poder de criar um impacto e qualquer uma que esteja atrelada a situações de violência tende a gerar um desconforto. Tomas de Arruda, estudante de 25 anos, diz se sentir abalado quando tem contato com este tipo de mídia devido a empatia que sente. “A gente absorve um pouco daquilo tentando entender o que a pessoa na foto ou vídeo está passando”.
O psicólogo Henrique Uva também chama a atenção para outro ponto e diz que a pessoa está mais suscetível a ser afetada quando algo se assemelha a uma vivência pessoal. “É difícil ver uma criança desamparada quando também passamos por situações graves de desamparo”.
Manter-se informado sobre o mundo e o que acontece ao seu redor é essencial para a formação de opiniões e ter discernimento para não ser facilmente manipulado. Para Tomas, apesar do incômodo que essas informações causam, elas ajudam a entender que o mundo não é um “mar de rosas” e não se pode fugir da realidade. “É mais fácil me manter com os pés no chão e me mostra que em nenhuma circunstância a violência é aceitável, não importa o motivo”, comenta.
O contato frequente com estes conteúdos é capaz de gerar gatilhos e tornam possível que, ainda que inconscientemente, a pessoa reviva seus traumas, trazendo sofrimento. Isso ocorre, principalmente, em pessoas que passaram por momentos como diferentes tipos de abusos, humilhações e negligências, pois costumam ter dificuldade em impor limites aos estímulos que as alcançam.
É preciso ter controle daquilo que consome, tanto em qualidade, quanto em quantidade. Henrique menciona que para não deixar a ansiedade tomar conta ao estar exposto de forma constante a estes conteúdos, deve-se reconhecer aquilo que te aflige e adotar estratégias para se manter informado sem prejudicar a saúde mental.
“As vezes é preciso se afastar temporariamente e procurar coisas que fazem relaxar. Olhar internamente e entender de que forma essas situações se ligam a coisas que também vivencia também pode ajudar, pois, dessa forma, é possível separar e não se confundir com o outro, apesar do sentimento de empatia”.
A internet é um meio de comunicação muito potente e a forma que é utilizada pode ser benéfica ou não para a saúde mental de alguém. Em tempos onde informações de guerra são disseminadas em larga escala e imagens são exibidas sem censura, gatilhos podem ser ativados e é preciso restringir o que será consumido. Para Henrique, este controle tem relação com diversos fatores pessoais que vão desde relacionamentos familiares à educação formal. Tomas comenta que tenta sempre se informar em veículos que julga ter credibilidade, até mesmo na internet.
“Para evitar a desinformação, eu confio na minha educação e busco informações em fontes confiáveis, mas sempre prestando atenção nos detalhes para compreender o que eles estão tentando me transmitir e se isso é válido ou não para mim”.
Para saber como é feita a cobertura midiática em tempos de crise, acesse https://contextojornalismo.com/2023/12/05/cobertura-midiatica-em-tempos-de-crise/.
