Público feminino representa 37% dos consumidores, mas inserção de mulheres nesse nicho ainda é um assunto polêmico

Por Emanuelly Teixeira

Durante os dias 30 de novembro e 3 de dezembro, São Paulo recebeu a CCXP, uma convenção brasileira de cultura pop que traz atores e as últimas notícias sobre videogames, histórias em quadrinhos, filmes e séries para TV. Entre os convidados, estava a atriz Zendaya, intérprete de Michelle Jones nos filmes do Homem Aranha.
Estrelando nos longas do Homem Aranha de 2017, 2019 e 2021, a personagem de Zendaya foi alvo de diversos comentários negativos. Os questionamentos iam desde a sua beleza para interpretar MJ e até mesmo quanto a personalidade da personagem, dita como arrogante. Outra atriz que sofreu ataques foi Brie Larson, intérprete de Capitã Marvel, a protagonista também foi taxada como sem carisma e convencida. Ambas as atrizes exerceram papéis de mulheres que não eram donzelas indefesas e nem usavam roupas reveladoras, o que até então era comum em filmes desse gênero.

Zendaya durante divulgação do filme Homem Aranha (foto: reprodução).


O universo de super-heróis vem pouco a pouco mudando sua forma de representar mulheres em suas obras. Em 2014, o quadrinista Milo Manara, desenhou uma capa alternativa para a história em quadrinho da Mulher Aranha em que a personagem era explicitamente sexualizada. Na época, o editor-chefe da Marvel, Axel Alonso, pediu desculpas e justificou dizendo que aquela não era a principal e sim uma edição para colecionadores. No universo cinematográfico, foi apenas em 2019 que a primeira super-heroína ganhou um filme solo, tornando a Capitã Marvel a pioneira do MCU.
Segundo Ana Alice da Silva, que acompanha os filmes da Marvel, há uma perceptível mudança no modo como as mulheres eram tratadas antes e atualmente no MCU. “Agora sim as personagens femininas estão tomando mais espaço, sendo heroínas, vilãs e anti-heroínas. Antes, as únicas representações que tínhamos eram superficiais e sexualizadas, e nos filmes atuais as mulheres têm mais voz e mais oportunidades”, explica a fã.
Para Pedro Henrique Cabral, há na verdade uma representação, porém que vem decaindo na sua qualidade. “Na Fase 1 e 2 tivemos pouca representação, mas eram boas por causa de atrizes extremamente carismáticas como Zoe Saldana ou Scarlett Johansson, que eram conduzidas por bons diretores e um bom roteiro. Hoje a representatividade aumentou, porém, conduzidas por roteiros fracos, nem o carisma das atrizes consegue salvar mais”, alega Cabral.
Se as empresas ainda não deram a atenção necessária para a representatividade de mulheres no universo geek, dados mostram que elas são uma porcentagem cada vez maior no cenário. A pesquisa realizada pela Geek Power em 2019 mostrou que 37% do público que consumia o universo geek eram mulheres, o número era de 16% em 2016. No mundo dos jogos, as consumidoras representam a maioria, o levantamento feito pela Game Brasil em 2021 divulgou que 51,9% dos gamers são mulheres.
Apesar dos avanços através dos anos, algumas fãs ainda notam certa dificuldade em se sentirem acolhidas e pertencentes a esse meio. Como no caso de Ana Clara da Silva, que acredita que um dos fatores para esse ambiente inóspito é a sociedade patriarcal. “Não acho que as mulheres são muito bem aceitas no meio nerd de super-heróis, ou no mundinho nerd em geral. Isso é uma questão patriarcal ensinada há muito tempo.  Os filmes antigos sempre mostravam o empoderamento masculino, e isso ajudou muito a degradar a capacidade de mulheres alcançarem um espaço no mundo de heróis”, afirma Silva.

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