Por Daniela Moraes Bianchezi

Olho as folhas se mexendo com o vento fraco, os pássaros voam, despreocupados e livres, indo para qualquer lugar. Um cheiro forte de chá invade minha sinestesia particular e olho para trás. Minha avó calmamente despeja água quente, recém fervida, numa peneira cheia de ervas, nasce aí, o cheiro. Chá quente para uma tarde fria. Volto a olhar para a natureza, tudo está tão estampado na minha frente que parece que estou inserida numa pintura, em todos os sentidos. Noto que o tempo corre devagar no campo, e noto que não estamos acostumados a isso, principalmente quando moramos nas cidades, onde o céu não é limpo e as estrelas se escondem à noite.

Penso que desperdiçamos muito do nosso tempo por lá, mas só noto isso quando venho para cá. Aqui ninguém está correndo, ninguém está atrasado e sempre há tempo para tomar café no meio do dia. Hoje, especialmente, há tempo para um chá. Perguntas vêm à minha mente sobre o porquê precisamos viver correndo, e será que vivemos mesmo? Ou só estamos nos apressando e desejando que os dias, intermináveis, terminem? 

Meus olhos se voltam para baixo e encontro meu pai andando no meio do terreno trazendo bananas ainda no cacho. “Vamos usá-las para fazer bolo”, ele diz quando passa por mim. Abro um sorriso, que logo se torna melancólico e chego à conclusão que é assim que deveríamos estar passando nosso tempo na Terra, tendo tempo para as pessoas e tempo para olhar para as árvores e não em prédios altos onde trabalhamos a todo vapor, horas e horas a finco para cumprir metas de outras pessoas; onde os trabalhadores ficam presos nos transportes lotados, desesperados para voltarem para casa, dormir e fazer tudo de novo no dia seguinte. 

No campo, as pessoas não planejam os dias, elas vão para casa e acordam cedo, sozinhas, sem despertadores, pegam ovos e leite, voltam para a casa para fazer comida e daí…nada se sabe. As mães deixam os filhos correrem e brincarem, sem ter medo. Aqui conhecemos os vizinhos e somos convidados a passar as tardes em companhia; passamos horas cavalgando, caminhando, nadando, colhendo frutas, montando tendas e campos de futebol improvisados. Aqui, sinto que nós vivemos, conseguimos sentir o fluxo do tempo e a Terra em sincronia com nossos corpos, o vento é mais fresco e as noites mais calmas.

“A mesa está posta, quer chá?” Minha avó pergunta, adentrando meu campo de visão e me tirando na minha reflexão. Percebo como ela não está nem um pouco cansada, na verdade parece totalmente calma e paciente. 

“Claro” respondo. Me ponho de pé e vejo a varanda se encher de gente, pessoas que conheço, amigos e família. Abro um sorriso e me junto a eles. Depois da terceira xícara, o vento aumenta e a chuva começa a cair, as crianças se levantam e vão brincar no barro, enquanto as mães correm atrás deles gritando para não entrarem em casa com os sapatos sujos, e nós rimos da cena. Fico alegre, estou vendo a vida acontecer, e estamos felizes, calmos e livres.

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