Produzidos com o soro do leite, derivados tem queda em sua qualidade nutricional
Por Daniel Souza
Presente na embalagem de vários produtos derivados do leite, o termo “mistura” vem ganhando cada vez mais espaço nos mercados brasileiros, indicando uma mudança na identificação e na composição dos laticínios que consumimos.
Alimentos como bebida láctea, mistura láctea condensada de leite, mistura de creme de leite, pó para mistura sabor leite, entre outros, surgiram nas prateleiras durante o ano passado, como possíveis substitutos respectivamente do leite e leite condensado e creme de leite que são alguns exemplos dessa linha de produtos mais acessíveis à população.

Formada em Nutrição, com mestrado e doutorado em ciência dos alimentos, a professora da Unesp de Botucatu Maria Rita Marques de Oliveira comenta que há dois aspectos que podem ser levados em consideração quando se trata dessa classificação dos produtos, a perda da qualidade ou uma maior fiscalização da Agência nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Entre os ingredientes adicionados a essa composição, o amido e o soro do leite são alguns dos que se destacam. Se tratando de um carboidrato, o primeiro pode ser utilizado para melhorar a funcionalidade do produto ou para barateá-lo durante a sua produção.
Obtido por meio do processo de separação de sólidos e líquidos durante a fabricação de queijos, o soro do leite é um subproduto da indústria de alimentos. No entanto, o que o difere do leite é a sua composição nutricional.

Segundo a Tabela Brasileira de Composição Alimentar (TBCA), a cada 100g, o leite integral possui 107 mg de cálcio. Já o soro, na mesma proporção, tem apenas 45 mg e a bebida láctea 47,5 mg.
Maria Rita confirma que esse ingrediente empobrece a composição e o valor nutricional dos alimentos que utilizam desse subproduto. “A nossa população já consome uma baixa quantidade de cálcio e o leite tem sido a principal fonte”.
Alta no litro do leite em 2022
No ano passado, devido à inflação e à escassez de matéria-prima no mercado, o preço do litro do leite teve um aumento considerável, chegando às prateleiras a um preço de 7 reais. Para manter a produção de laticínios sem ter muitos prejuízos, a indústria passou a utilizar esses subprodutos para diminuir o custo e manter o preço acessível à população.
Essa alteração é um indicativo de reduflação, uma ação que busca diminuir o tamanho das embalagens ou a qualidade da matéria-prima para manter ou diminuir o preço dos produtos, fazendo com que o consumidor leve um produto inferior ou menor, pagando pelo aumento do custo.
“Eu também não descarto a possibilidade de que estejam aparecendo muito mais alimentos ultraprocessados de baixa qualidade no mercado para satisfazer o mercado pobre […]. O mercado, ele estuda, né? Ele vai usar o que a população quer, o que a população pode comprar. Qual é a característica desse mercado? O nosso mercado está empobrecido”, comenta a professora.
Mudança nas embalagens
Devido às mudanças nos produtos lácteos, a sinalização sobre o que está sendo vendido deve estar clara nas embalagens para que o consumidor não seja induzido ao erro durante a compra. Além disso, é importante verificar os ingredientes do produto para que o cliente tenha noção do que está adquirindo.
Com a nova legislação de rotulagem, aprovada em 2020, outra mudança importante foi implantada. Por meio dela, componentes como teor de açúcar, sal, gordura passaram a ficar em evidência, para melhor compreensão da população, o que facilita a identificação de produtos ultraprocessados pobres em nutrientes.
