Por Flavia Tofoli

Certa vez, me peguei refletindo sobre como precisamos estar presentes e ser presentes a todo instante. Ao nascer, de certo modo, carregamos as perspectivas do quão importantes somos para nossos pais, e mesmo que sem perceber, acabamos nos tornando projetos de perspectivas deles. Com o passar do tempo, também vamos conhecendo novas pessoas e, aos poucos, nos tornamos pequenos núcleos de personagens que devem cumprir papéis e perspectivas.

A sociedade sempre nos reforça que precisamos ser alguma coisa. No entanto, ninguém nos conta quando precisamos deixar de ser. Deixar de ser importantes para alguém, deixar de ser as perspectivas frustradas do outro.

Infelizmente, o preço de ser uma pessoa “people pleaser” é anular o seu próprio bem-estar para agradar o outro, ou seja, não ser a sua própria prioridade. Nossas amizades e relacionamentos não devem ser baseados em priorizar exclusivamente o outro. As relações que nos norteiam não devem ser uma via de mão única, na qual se oferece apoio e contribuições autênticas, mas pode-se correr o risco de colidir com a ausência da genuinidade. Sendo assim, devemos reconhecer que não somos o titã Atlas – que carrega o peso do céu nas costas. Não é possível sustentar o peso do outro em si.

O exercício fundamental para nos libertarmos disso é reconhecer que nem sempre somos importantes ou, então, que deixamos de ser importantes. Por mais difícil e até mesmo doloroso que isso possa parecer, nem sempre somos fundamentais na vida de alguém. Não precisamos nos encaixar nos papéis pré-moldados que a idealização do outro tem sobre nós.

Feito esse processo e reconhecendo o peso da nossa importância, ou melhor, nossa desimportância, a recompensa a se receber é a liberdade para ser e estar para quem realmente se faz presente em nossas vidas. O reconhecimento da nossa própria desimportância não implica falta de valor intrínseco, tão pouco um viés schopenhaueriano. Pelo contrário, é uma aceitação da realidade fluída das relações humanas. O peso da nossa importância pode variar ao longo do tempo, e compreender isso é fundamental para abraçar as mudanças com serenidade. 

Com isso, diferente das relações nas redes sociais que são cumulativas, no mundo real o clichê de “menos é mais” é o que vale. Apenas devemos deixar ir as pessoas que não nos fazem bem e não agregam ao nosso desenvolvimento. E dar lugar para as poucas que são nossa via de mão dupla.

A partir disso podemos compartilhar nosso afeto, energia e apoio às amizades que nos agregam de forma saudável e que nos permitem ser quem somos, sem a exigência de ser o que elas precisam.

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