Como esse tipo de lançamento pode ser oportuno para os artistas

Arthur Caires
Anualmente, a partir do dia 1º de novembro, ou até mesmo antes, All I Want For Christmas de Mariah Carey volta a conquistar posições de destaque nas paradas musicais. Desde 2019, a canção tem consistentemente alcançado o primeiro lugar na renomada Billboard Hot 100, a principal parada de singles dos Estados Unidos.
Contudo, Mariah Carey não está sozinha nessa empreitada natalina. Diversos artistas há muito tempo perceberam o potencial lucrativo dessa temporada festiva e investem na criação de álbuns temáticos. A razão por trás desse fenômeno é bastante auto explicativa: o Natal é um período em que as vendas de músicas atingem picos significativos.
Nesse contexto, artistas de renome e novos talentos encontram uma oportunidade única para criar obras que não apenas ressoam com o espírito festivo, mas também impulsionam suas carreiras por meio do sucesso comercial durante essa época do ano.
A decisão de lançar um álbum de Natal não apenas representa uma oportunidade lucrativa para os artistas, especialmente em períodos nos quais novas criações estão escassas, mas também envolve considerações estratégicas em relação ao repertório. Muitos clássicos natalinos têm raízes profundas que remontam ao século 19 ou ao início do século 20.
Este fato possui implicações significativas para os artistas, uma vez que muitas dessas composições estão agora no domínio público. Isso significa que os direitos autorais dessas músicas expiraram, ou nem sequer foram estabelecidos caso a autoria seja desconhecida, o que, por sua vez, reduz substancialmente os custos associados à produção do álbum. Essa vantagem financeira torna o lançamento de álbuns natalinos uma escolha estratégica para os músicos, permitindo-lhes explorar um repertório consagrado sem as complexidades e despesas associadas aos direitos autorais.
Para Leonardo Torres, jornalista do Portal POPline, trata-se de uma jogada comercial no mercado norte-americano, que tem o hábito de consumir esse tipo de álbum. “É muito comum que artistas, quando estão em baixa, gravem um álbum natalino por encomenda da gravadora. Não é exatamente um desejo artístico deles”, comenta. Segundo ele, todo ano esses lançamentos acontecem, mas os que ganham relevância são os clássicos já consolidados, como Mariah Carey e Michael Bublé.
Por outro lado, Pedro Figueiredo, da Rolling Stone Brasil, diz que: “Pode ser, sim, uma jogada comercial, mas isso não isenta a obra de carregar um peso artístico”. O jornalista cita A Mary Christmas (2013), de Mary J. Blige e A Legendary Christmas (2018), de John Legend, como obras complexas em seu arranjo e técnica. “Isso é arte, ainda que seja comercial.”, completa.
Os lançamentos de álbuns de Natal exercem um impacto notável nas paradas de sucesso e nas métricas de popularidade da indústria da música, transformando o cenário competitivo durante a temporada festiva. A familiaridade e o apelo nostálgico associados aos clássicos natalinos muitas vezes catapultam os álbuns temáticos para posições de destaque nas músicas mais ouvidas das plataformas.
“No final de novembro, as músicas natalinas já começam a aparecer nas paradas, acredito que por tocarem nas lojas departamento. Em dezembro, chegam a dominar as rádios – e aqui me refiro ao mercado internacional, sobretudo Estados Unidos e Reino Unido”, pontua Leonardo, sobre como se dá essa dinâmica das músicas de Natal.
As plataformas de streaming e as métricas digitais também refletem esse impacto, com aumentos significativos no número de reproduções e downloads de músicas natalinas, evidenciando a influência duradoura desses álbuns na era moderna da indústria fonográfica.
Apesar do impacto significativo que os álbuns de Natal exercem nas paradas de sucesso e na indústria da música, é importante ressaltar que esse apelo não é universal. “Eu, na verdade, não sou muito entusiasta de músicas ou álbuns natalinos. Ouço brevemente se algum artista que eu gosto lança algo assim, como a Ariana Grande fez no passado”, comenta Leonardo.
Apesar das divergências de preferências musicais, é inegável que os álbuns de Natal mantêm um público substancial e devoto que aguarda ansiosamente cada temporada para se envolver com a atmosfera festiva por meio dessas composições. Como é o caso de Pedro: “Eu nunca fui a pessoa mais ligada à canções natalinas até começar a ouvir os trabalhos de artistas que eu gosto voltados para a data. Meus favoritos são 25 de Dezembro (1995), da Simone e Merry Christmas (1994), da Mariah Carey.”
