O romance de Benjamin Alire Sáenz foi escolhido como livro de honra do Michael L. Printz Award e recebeu o Stonewall Book Award, entre vários outros prêmios  (Foto: Blue Fox Entertainment)

Matheus Santos

Desde que Benjamin Alire Sáenz publicou Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo pela primeira vez, não demorou muito para conquistar o público infantojuvenil. Com linguagem poética e sentimental, o autor consegue expressar as dificuldades e as descobertas que permeiam a adolescência, especialmente daqueles que se identificam com seus personagens.

A adaptação para o audiovisual do romance de Sáenz ficou responsável pela diretora estreante Aitch Alberto, que até então havia dirigido alguns curtas-metragens e Hara Kiri (2016), cuja experimentação revelou sua sensibilidade ao retratar relacionamentos homoafetivos. Em Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante, a cineasta persiste na exploração delicada e envolvente de narrativas queer, porém, se perde na tentativa de elaborar um filme coeso sem subentendidos.

Assim como no livro, acompanhamos o desenvolvimento da relação entre Aristóteles e Dante a partir da narração em off dos protagonistas. Embora nem sempre funcione nos filmes, o monólogo acrescenta sensibilidade ao roteiro de Aitch Alberto, evidenciando as características de ambos os personagens que, apesar  das diferenças, estabelecem uma amizade marcada pelo companheirismo e pela superação de preconceitos ligados à própria sexualidade.

Com enquadramento zenital, a fotografia excêntrica comove pela captação sensível do afeto entre os personagens (Foto: Blue Fox Entertainment)

O clichê de um romance que se inicia em um verão tedioso dos anos 1980 é superado pela ambientação envolvente da cidade de El Paso, no Texas. As referências ao México e a sinergia entre os atores Max Pelayo e Reese Gonzales chamam atenção, não só pelo retrato fiel da época, mas também pela fuga de interpretações caricatas e estereótipos latinos.

No entanto, o roteiro apressado encurtou diversas amarrações importantes da trama, confundindo a percepção do longa que ficou parecendo uma coletânea de cenas rápidas sem coesão. A mudança da família de Dante para Chicago e o acidente de carro são alguns pontos sem aprofundamento, mas nenhum outro núcleo é tão superficial quanto a história do irmão de Ari. O personagem não aparece no longa, e as poucas menções ao seu nome despertam a curiosidade de saber qual seria a reação dele ao descobrir que o irmão mais novo é homossexual depois de longos anos na cadeia pelo assassinato de uma travesti.

O filme poderia ter explorado mais sobre o passado de Bernardo, irmão mais velho de Aristóteles, e contornar as controvérsias relacionadas à transfobia que cercam o livro, especialmente considerando o fato de a diretora ser transexual. Em 2012, Benjamin Alire Sáenz recebeu críticas negativas devido à abordagem da personagem travesti na obra, ao utilizar pronomes masculinos para referir-se a ela.

Em entrevista à revista Time, Aitch Alberto declarou que se sentiu encorajada a iniciar a transição de gênero ao ler o livro pela primeira vez em 2014, o que a incentivou a dirigir o filme (Foto: Blue Fox Entertainment)

Outro aspecto envolvente do filme é a autenticidade da narrativa. Não assistimos apenas uma história fictícia, mas também o retrato da vida de Sáenz, que, como Aristóteles e Dante, experimentou confusões sobre sua sexualidade na adolescência e não se sentia completamente pertencente ao México ou aos Estados Unidos, identificando-se como um pocho ou mexicano meia-boca.

Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante é como um bote salva-vidas para meninos que ainda estão confusos em relação a sua própria identidade. O filme não apenas cativa pela sua poesia, mas também nos encoraja a assumir riscos, seja por  amor ou pela jornada de autoaceitação, permitindo que possamos ser quem realmente somos.

Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe | Official Trailer (2023)

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