
Setores da sociedade pressionam governo por decisão que seria histórica
Por Nathan Nunes
Desde setembro, quando Rosa Weber se aposentou do cargo de Ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), uma parcela dos grupos de esquerda, dentro e fora do Partido dos Trabalhadores (PT), vem se organizando para influenciar a escolha do Presidente Lula para ocupar o cargo. A principal reivindicação desse movimento é apenas uma: colocar uma mulher negra na corte.
Para a professora do curso de Jornalismo da Unesp Bauru Aline Lisbôa da Silva, a importância de uma escolha como essa é inquestionável, embora ainda dependa de outros fatores. “É sempre importante termos representatividade da nossa diversidade étnico-racial em todos os espaços, inclusive no STF. No entanto, neste caso, a escolha também se deve por outros aspectos como capacidade de articulação política. Deste modo, é preciso ter cautela sobre a escolha de um representante para este cargo tão importante, onde poucos participam.”
Juarez Xavier, vice-diretor da FAAC, também compartilha do mesmo pragmatismo. “A escolha de uma jurista negra, ligada às causas progressistas da sociedade brasileira e com um longo histórico em defesa da democracia, seria a melhor indicação, do meu ponto de vista. Mas, para fazer isso, o governo Lula precisaria ter uma força política maior do que tem demonstrado até agora. Pelas sinalizações dadas pelo governo na reforma ministerial mais recente, em que promoveu a redução de mulheres no primeiro escalão do governo, a possibilidade de ter uma mulher negra no supremo parece ser remotíssima”.
Atualmente, as mulheres negras vêm sendo representadas dentro do Governo através do Ministério da Igualdade Racial, comandado por Anielle Franco, educadora e irmã de Marielle Franco, assassinada em 2018. As pautas defendidas pelo Ministério estão de acordo com as reivindicações da população negra no Brasil, como o fim da violência policial e do encarceramento em massa. No entanto, para Juarez, ainda há um problema maior que impede que essas pautas e outras reivindicações avancem na atual conjuntura do país.
“Apesar da urgência da inclusão da população negra no universo dos direitos sociais e da importância que ela teve na eleição do presidente Lula, a base do governo pode ser um empecilho à adoção dessa medida. Parece-me que o Brasil ainda não está maduro politicamente para uma medida tão avançada como esta, não apenas para a população negra, mas para a população brasileira.”
