Entender a defasagem do acesso à informação significa discutir e se preocupar com um meio inclusivo e sem preconceitos 

Por Amanda Trentin

A discussão acerca do acesso à informação tem sido vociferada na última década ao passo em que se nota a escassez de acessibilidade na divulgação noticiosa. Especialistas consideram que as instâncias distribuidoras de conteúdo não se preocupam em informar um tecido social em sua totalidade e os grupos que enfrentam a defasagem do contato com o conhecimento são vítimas de um posicionamento propositalmente excludente e não democrático. 

Exemplo disso são os desafios que pessoas com deficiência encaram ao procurar por informação: os formatos de entrega dos fatos relatados não abrangem pessoas com deficiência visual, auditiva, cognitiva, motora etc, em razão da negligência com esse público. 

O doutor em Educação e audiodescritor Felipe Mianes explica que as limitações da mídia em relação às pessoas com deficiência estão enraizadas no capacitismo estrutural e estão presentes em linhas editoriais que desprezam o alcance dessa parcela de destinatários. 

“O tipo de abordagem que é dada para o conteúdo de acessibilidade é sempre por um viés de superação ou estereotipado. Então, as barreiras atitudinais são as mais importantes, porque cada vez menos temos barreiras tecnológicas e operacionais. A maioria dos jornalistas sequer acerta a nomenclatura correta quando fala de pessoas com deficiência”, afirma. 

Felipe Mianes. Um homem branco de cabelos e barba pretos. Nesta imagem, ele está palestrando com o auxílio de um microfone que está próximo a seu rosto e atrás dele há uma tela com a apresentação de slides.

Para Mianes, existem aproximadamente 20 milhões de pessoas com deficiência no Brasil. Essa população carece da aproximação com a informação devido ao descaso com a aplicação de recursos de acessibilidade nas publicações de notícias. 

“Há pessoas com deficiência, idosos, neurodivergentes e isso é um montante expressivo da sociedade. Pode não ser a maioria, mas é uma quantidade substancial e que faz com que seja necessária a adoção de medidas para que isso [a exclusão] não aconteça. E nós temos as tecnologias para isso hoje em dia”, diz. 

Essas pessoas são afetadas de forma ampla pelos meios de comunicação que não aderem aos métodos de acessibilidade. Elas são impedidas de exercer a participação plena e efetiva no modo de ser e agir dentro de um meio social porque são afastadas do acesso aos meios culturais e educacionais. “Ela [a pessoa com deficiência] tem dificuldade na aquisição de conhecimento e isso a leva a ter dificuldades de alcançar maiores níveis de participação social”, comenta. 

Embora haja tecnologias para introduzir a acessibilidade nos critérios de disseminação de conteúdo e leis incisivas sobre esse assunto, o desleixo dos veículos comunicacionais é pautado em fundamentos preconceituosos, na ideia de que é um assunto desinteressante, no desconhecimento e, acima de tudo, em questões mercadológicas.

Nessa linha de pensamento, existe a ideia de que fazer acessibilidade é custoso e, por isso, não seria válido para as esferas de comunicação apostarem nessa proposta de incluir tal público-alvo ou até mesmo fidelizá-lo a uma determinada emissora. Entretanto, “fazer acessibilidade é exercer uma profissão como qualquer outra e que requer uma remuneração de acordo com a qualidade e a capacidade de cada profissional”, explica Mianes. 

Como primeiro passo para que essa problemática seja melhorada, é necessário que os meios de comunicação admitam que são capacitistas e, posteriormente, pensem em uma possível mudança no formato de planejamento e execução. 

“Para superar uma barreira, é preciso que as pessoas entendam que elas são capacitistas. Depois disso, pensar no que fazer para evitar isso, para que isso não aconteça. O jornalismo deve ouvir as pessoas com deficiência e fazer mais pautas sobre pessoas com deficiência, não voltada na questão médica, na questão da superação, sem esses estereótipos e estigmas. A deficiência é uma característica de uma existência”, explica. 

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