Centro de Psicologia Aplicada (CPA) e Núcleo Técnico de Atendimento Psicossocial (NTAPS) oferecem atendimentos no campus de Bauru; falta de informação e recursos limitados ainda são barreiras para o acolhimento de estudantes
Por Amanda Silva Lima
“Tudo é muito diferente, era a primeira vez que eu estava saindo de casa”. Esse é o relato de Helena (nome fictício), que, aos 18 anos, viveu a experiência de deixar sua família para ir atrás de seu objetivo de conseguir um diploma de ensino superior em uma instituição pública. Ela se mudou de São Paulo para estudar em Bauru, no interior do Estado, na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP).
Essa fase de transição trouxe desafios que a jovem estudante, da área de exatas, não esperava encontrar. “A gente tem matérias muito difíceis e que são inumanas, basicamente. Sou uma pessoa de baixa renda também, então acaba sendo muito difícil a administração do dinheiro”, ressalta.
Segundo uma pesquisa de 2018 da Organização Mundial da Saúde (OMS), 35% dos estudantes universitários de diversos países apresentam sintomas de ansiedade ou depressão. O apoio da universidade faz toda a diferença nesse processo, como foi para Helena. “Eu acho que eu não estaria aqui para contar história se eu não tivesse tido esse auxílio no começo”, pontuou.
A UNESP Bauru oferece recursos para atender os estudantes nesse momento de transição, como os auxílios financeiros e os serviços de acolhimento, como o Centro de Psicologia Aplicada (CPA) e o Núcleo Técnico de Atendimento Psicossocial (NTAPS). Mas, infelizmente, esses meios não são suficientes para atender a toda a comunidade e tem alcance limitado se comparado com a quantidade total de alunos dos campi.
NTAPS e CPA
A UNESP possui mais de 53.000 alunos matriculados, sendo aproximadamente 38.000 na graduação, 764 no curso de Licenciatura em Pedagogia em EAD e 13.931 na pós-graduação. Conta também com cerca de 10 mil alunos em cursos adicionais de línguas e 861 pós-doutorandos, segundo dados do Manual do Candidato de 2018, da Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual Paulista (VUNESP). Desse total, 544 alunos foram atendidos pela frente de acolhimento do NTAPS no ano de 2022.

Esse serviço psicossocial é dividido em três frentes: Prevenção e Promoção em Saúde Mental, Acolhimento e Assistência. O acolhimento é o braço que oferece cinco sessões individuais de terapia, uma sessão de checagem e depois um encaminhamento para a frente de assistência, onde os atendimentos são em grupos.
No campus de Bauru, sede do NTAPS, 236 estudantes foram atendidos pelo serviço em 2022. Em relação aos mais de 7000 alunos matriculados na unidade, esse alcance é de pouco mais de 3%.
O Centro de Psicologia Aplicada (CPA), também localizado no campus de Bauru, atende não só a comunidade unespiana, mas também o público externo. A atual supervisora do CPA, Marianne Ramos Feijão, explica as limitações para realizar esses atendimentos. “Em função da pandemia, do agravamento da condição de saúde mental da população e do fechamento de outros serviços, a gente hoje tem uma lista de espera bastante grande”, explicou.
Os problemas se agravam por envolver também questões de logística e de espaço. “Nós também temos uma questão estrutural. Muitos atendimentos eram requisitados nos mesmos horários, que são esses noturnos. E a demanda não é só grande do ponto de vista quantitativo mas também qualitativo. A gente precisaria de mais serviços e de outros profissionais na equipe, como psiquiatras”, ressalta Marianne.
Em conversa com a reportagem, a servidora Ana Lúcia Correia Canaver destacou que os alunos da UNESP de Bauru têm prioridade em relação ao público externo e que o processo para ser atendido é mais simples, mas, ainda assim, a lista de espera é grande. Ela também pontuou que, depois da pandemia e de uma ampla divulgação pela mídia local, a procura aumentou muito.

Acesso
A falta de informação na comunidade estudantil é um desafio para o acesso a estes serviços. Mesmo quando os estudantes conhecem os projetos, muitas vezes não sabem com quem falar, como solicitar ajuda e quais são os recursos disponíveis.
O NTAPS, por exemplo, conta com outras atividades que, apesar de não serem individualizadas, também podem auxiliar o estudante durante a graduação, como explica a psicóloga Katiúcia Quênia Quiterio de Deus Marquezin “As diversas oficinas ofertadas pelo NTAPS podem promover oportunidade das pessoas passarem, entrarem e ficarem na universidade com uma melhor qualidade de saúde, para ter o seu bem-estar ali. São assuntos diversos que o NTAPS trabalha hoje”, destaca.
Ela também explicou sobre a dinâmica do programa e os critérios de acesso a esses recursos. “Cada caso é um caso e o NTAPS faz essas avaliações. Mediante a necessidade, essas pessoas são encaminhadas”, ressaltou.
O NTAPS surgiu em 2018, em atendimento a uma demanda da comunidade acadêmica. “A gente observava que alunos estavam tendo desde queda de rendimento até abandono do contexto universitário. E aí a universidade verificou que poderia ser feito alguma coisa”, relatou Katiúcia.
Permanência Estudantil
A saúde mental dos estudantes também pode ser afetada por questões socioeconômicas. Os jovens, ao saírem de casa, passam pela experiência de administrar o dinheiro pela primeira vez e, em muitos casos, as condições financeiras familiares não são favoráveis à permanência na universidade. Muitos precisam conciliar a rotina de estudos com trabalho.
Como parte da política de permanência estudantil, a Unesp mantém diferentes tipos de auxílios financeiros destinados a estudantes regulares dos cursos de graduação em condições de vulnerabilidade socioeconômica. Entre os quais, destacam-se auxílio transporte, subsídio de alimentação, moradia estudantil, auxílio maternagem/paternagem, auxílio especial para deficientes físicos e auxílio estágio. Um processo seletivo é aberto todo ano para ingressantes e outro para veteranos. Outras informações podem ser acessadas na página da UNESP, pelo link https://www2.unesp.br/.
