Mais de 11 milhões de mães precisam assumir a maternidade completamente sozinhas
Por Juliana Allevato
De acordo com pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o número de mães solo, ou seja, aquelas que são inteiramente responsáveis pela criação e educação dos filhos, passou de 9,6 milhões para mais de 11 milhões na última década, um aumento de aproximadamente 17%.
Professora na rede pública e mãe de dois filhos, Vitória (nome fictício) faz parte dessa realidade. Há 7 anos, deixou a casa onde morava com o pai de Lara e Pietro (nomes fictícios), seu ex-marido, de quem sofreu as mais variadas formas de abuso e violência doméstica.
De acordo com a professora, reconhecer os sinais de que convivia com um homem violento a fez mudar radicalmente de vida e assinar o divórcio. A princípio, o genitor de Lara e Pietro havia se comprometido em assumir as responsabilidades de pai após o fim do casamento, mas não foi o que aconteceu, evidenciando ainda mais a solidão materna de Vitoria.
“Até hoje, ele não sabe onde os meninos estudam, nunca participou de uma reunião da escola. Mesmo na formatura de Pietro, ou nas premiações que meus filhos participaram, ele sempre tinha uma desculpa para não aparecer, e foi se distanciando cada vez mais”, conta.
E isso se repetiu mais de uma vez, em diversas outras situações. “Muitas vezes minha filha, que ainda era pequena, ficava doente, e eu me via sozinha com ela, indo para o pronto socorro”.
A ausência do pai também refletiu na situação financeira de Vitória e seus dois filhos. Sozinha, ela já chegou a trabalhar em 4 escolas simultaneamente para dar conta do sustento da família. “Havia vezes em que eu almoçava nas escolas do estado só para que sobrasse comida e eu pudesse levar para os meus filhos no fim do dia”.
O maior prejuízo, no entanto, ela pagou na sua saúde mental. Atualmente, sua rotina se divide entre a casa e as duas escolas. Ao longo desses sete anos, a mãe disse que, em certo ponto, se sentia tão exausta em conciliar quatro escolas, mais a responsabilidade de educar seus filhos e cuidar da casa, que precisou abrir mão de pelo menos dois desses 4 empregos.
“O preço que eu pago por isso é muito alto, meu emocional tá destruído. Até hoje, faço acompanhamento psiquiátrico, e também uso remédios controlados. E isso é fruto de estresse, muito cansaço, má alimentação….isso tudo é consequência de ser uma mãe solo. Eu sou uma sobrevivente. Todas as mães que vivem assim são sobreviventes”.
