Acessórios feitos à mão e utilizados principalmente na periferia, voltaram a ganhar espaço na cabeça e no corpo dos jovens

  • Por Vinícios Cotrim

Depois de uma inserção do estilo nos anos 1990, os acessórios feitos de crochê, utilizados principalmente na periferia, voltaram a ganhar espaço na cabeça e no corpo dos jovens de quebrada. Mesmo com esse novo crescimento, o preconceito contra este tipo de roupa segue em alta, influenciado pela falsa informação de que os produtos são fabricados apenas por pessoas privadas de liberdade, o que não passa de uma inverdade.

Diego Henrique Domingos, conhecido como Arte do Magro, é uma das referências na produção de artesanatos, como boné, porta-isqueiros, biquínis e outras coisas. Ele é responsável por projetos e ministra palestras e oficinas, além de compor um coletivo chamado Artesanato Chave, que se apresentou recentemente em diversos eventos culturais como no Museu das Favelas e na Fábrica de Cultura, ambos na capital paulista. Em 2022, estiveram na renomada São Paulo Fashion Week (SPFW).

“Acho super interessante, agrega bastante conhecimento para todos. Observarem que homens também fazem crochê, não só senhoras. E que isso, além de ser um hobby, porque no meu currículo eu tinha o crochê como hobby e agora é minha principal atividade… O que mandar pra mim eu faço, invento também”, comentou Arte do Magro.

Biquíni feito de crochê por Arte do Magro. Foto: Reprodução/Instagram

O artesão está há 15 anos na arte de fazer crochê e vem colhendo os frutos atualmente. Um dos principais fatores para este novo ‘boom’ dos acessórios de crochê é a utilização por parte dos artistas da música, principalmente os integrantes do rap e funk, que possuem grande presença na periferia. Kayblack, rapper, internacionalizou os acessórios em suas redes sociais ao tirar uma foto vestindo um boné de crochê em frente à Torre Eiffel, na França.

Segundo o cantor, ele possui uma afeição pelos produtos por conta de seu passado. Seu pai, que já esteve recluso, confeccionava os artefatos para efeitos de distração, assim como grande parte dos produtos feitos no fim do século passado.

Mesmo com a diminuição dessa forma de adquirir um boné de crochê, até hoje esses acessórios são chamados relacionados à “cadeia”. Apesar disso, a alta é evidente principalmente na periferia, e não tem previsão para diminuir, apenas aumentar. Com a questão da autenticidade, os “moleques chave” passaram a utilizar produtos de crochê em conjunto com marcas de grife, como Lacoste, Tommy, tênis Mizuno, entre outras.

Boné com tema de Martin Luther King. Foto: Reprodução/Instagram

“Com certeza é arte. É o que o Artesanato Chave também foca, a gente procurar ter exclusividade nos trabalhos. O Vilão, desde que começou, busca a originalidade, e a gente pega bastante no pé da rapaziada, porque muitas vezes copiam. Legal ter como referência o Crochê de Vilão, Arte do Magro, Sem Nome, mas não custa nada colocar que é referência”, disse Diego.

Assim como em roupas feitas por marcas de grife, os artesãos valorizam seus trabalhos, muito por conta da dificuldade no processo de produção e na exclusividade dos produtos, como citado por Magro. Além da arte feita em diversas formas, ainda há produtos com inspirações culturais e históricas, como utilizando a imagem de Martin Luther King, um dos maiores ativistas pelos direitos civis dos Estados Unidos da América.

Sabotage, um dos maiores rappers da história, seja no Brasil ou no planeta, também já foi homenageado em um boné, reforçando a ligação dos produtos com a cultura periférica, que tanto abraça o artesanato deste tipo.

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