Estudos demonstram um interesse maior de mulheres por carreiras em Engenharia e Matemática
Clara Sganzerla
Para Jade Calesco, o sonho quando criança era virar professora de matemática. Para Lucas Fuliotto, apesar de não ter tido tanta facilidade na matéria no começo, a matemática e a física tornaram-se paixões determinantes para a escolha de sua profissão. Ambos possuem a mesma faixa dos 20 anos e seguiram na mesma área. Aventuraram-se pelos números, cálculos e projetos da engenharia. “Como mulher nesse meio, tudo é desafiador. A gente se vê cercada de homens”, afirma Jade.
Mesmo que a fantasia de infância de Jade não tenha se concretizado, a matemática Celina Figueiredo, de 63 anos, seguiu os trilhos que muitas meninas também desejam: tornou-se uma mulher na área de exatas. Os caminhos para isso, no entanto, não foram cheios de flores. Em entrevista para o jornal Nexo, Figueiredo conta sobre o início de tudo na década de 80: em uma sala que reunia 50 alunos de física, matemática e engenharia, tinham apenas 3 mulheres.

Segundo dados de um boletim divulgado pela SBM (Sociedade Brasileira de Matemática) e SBMac (Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional) em parceria com a Associação Brasileira de Estatística, 39% foi a proporção feminina de ingressantes em 2019 nos cursos de matemática. Se temos, segundo dados do IBGE de 2022, mais de 51,1% de mulheres no país, como essa porcentagem não se aplica ao ensino superior? A conta não fecha.
Dentre os diversos motivos que podem justificar essa disparidade, podemos ressaltar, primeiramente, a representatividade. Relacionando os fatos abordados na matéria sobre matemática das garotas, um dos maiores laços entre comunidades é criado através da identificação e, posteriormente, pelo compartilhamento de experiências. Como é possível firmar essas conexões se há uma participação muito pequena dessa parcela nesses ambientes acadêmicos?
Dentro desse cenário, a matemática Figueiredo destaca ao Nexo: “Precisamos de mais símbolos, de mais mulheres nessas posições de atração — professoras, orientadoras, administradoras de projetos de pesquisa. Falamos muito sobre a atração dos jovens para a ciência, mas como a gente vai atrair sem mulheres? Hoje, quando uma menina escolhe o que vai fazer na faculdade, ela não vê outros exemplos para seguir”.
Pensando nisso, engenheiras formadas na Escola Politécnica (Poli) da USP deram o primeiro passo para uma mudança maior: criaram o Clube Minerva. Iniciado poucas semanas antes da pandemia em 2020, a coordenadora do projeto e engenheira Adriana Kazan afirma, em entrevista ao Jornal da USP, que idealizou o projeto para despertar o interesse de mais meninas para a área e fortalecer exatamente a representatividade que falta dentro, primeiramente, das universidades.
Independente das dificuldades diárias que precisam ser ultrapassadas dentro dessa área, ainda temos esperança. Calesco afirma que, de positivo, conheceu diversos processos muito interessantes em fábricas e palestras dentro da engenharia química, e que acredita que ela ainda é uma área em que a parcela feminina já tomou bastante espaço. Para Fuliotto, apesar de outras engenharias também terem despertado seu interesse enquanto estudava mecânica, o setor é muito abrangente e promissor quanto a carreira e atuação, trazendo boas perspectivas para seu futuro profissional.

Apesar dos desafios, o futuro parece promissor: na USP, há mais mulheres do que homens frente à da pesquisa científica na pós-graduação e no pós doutorado
E para Celine, recém diplomada na Academia Brasileira de Ciências, professora de ciência da computação na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e integrante da Comissão de Gênero e Diversidade da SBM e a SBMac, a diversidade é importante para todas as ciências, principalmente para grandes cargos de poder. “Tenho várias sobrinhas que fizeram direito, por exemplo, e por isso fui a várias formaturas. A maioria das formandas era mulher. Mas depois, quando você olha as pessoas que estão em posições decisórias, os juízes, você vê que há pouquíssimas mulheres ali.”
A conta é simples: para horizontes mais claros e brilhantes, não podemos deixar os elementos essenciais dessa equação de fora, pois, nesse caso, a ordem dos fatores altera o produto.
