Bella e o Olmo da Bruxa traz um lirismo que promete fazer sorrir, chorar e refletir
João Victor Fortuna

Nos anos 80, o hardcore, com toda a sua agressividade, explosão e intensidade, encontrou nas letras românticas um equilíbrio, um contraste, que funcionou como um longo casamento, nem sempre perfeito, mas repleto de sentimento. Era a prova de que o instrumental pesado podia combinar com letras que retratavam a fragilidade do ser humano, sua busca pela identidade, as dores do amor e mostrar que as lágrimas fazem parte da trajetória do jovem, do adulto, do idoso.
Essa mistura gerou o Emo, estilo musical que cresceu e se popularizou nos Estados Unidos. Com o passar dos anos, o Emo se moldou e se ramificou, flutuando desde Weezer à My Chemical Romance, cada um com a sua estética, sua sonoridade, porém aliando o instrumental pesado aos versos que falam sobre as experiências, frustrações, dores e emoções dos compositores.
Subgênero derivado do Emo, o “rock triste” segue essa régua, praticado em várias regiõesdo país. E é em Porto Alegre que reside um dos ícones do subgênero, a Bella e o Olmo da Bruxa, que capta muito bem a essência da vertente, ao despejar toda a emoção nas letras, na voz e nos instrumentos.
Bella e o Olmo da Bruxa é a materialização do Rock Triste, e a música “Chão do Banheiro”, de seu primeiro e único álbum auto intitulado, “Bella e o Olmo da Bruxa”, resume bem a afirmação. O vocal vai escalando junto ao instrumental até o momento do clímax, a intensidade combina perfeitamente com o desespero emanado pelos versos, em especial no trecho “eu queria me afogar e auto mutilar o meu psicológico enquanto sofro, por coisas que nem importam”.
Pedro Acosta, compositor, guitarrista e vocalista da banda, conta sobre a relação com o Rock Triste, e o que os levou a fazer esse estilo de música. Ele diz que não foi exatamente uma escolha por parte dos integrantes, mas sim algo natural, que se originou de uma forma muito orgânica, de acordo com as suas influências, como a banda belo-horizontina, Lupe de Lupe.
Não há um direcionamento específico ao Rock Triste, porém as letras são repletas de sentimento e fragilidade, demonstrando esse lado triste do ser humano. A banda sempre está disposta a experimentar, furar esse espectro do Rock, porém devido às influências e sempre de forma orgânica, a banda encontra uma forma de expressar seus sentimentos através de seu som.
Pedro reflete sobre a evolução e a trajetória da banda, e o quanto ele, Felipe Pacheco (Lipo) e Julia Garcia cresceram junto ao projeto da Bella e todo o processo criativo por trás desse sonho adolescente que adentrou a vida adulta. A banda se originou em 2015, porém Pedro se juntou em 2018, justamente durante o processo da realização do primeiro álbum, lançado em 2020.
O que começou como coisa de criança fazendo música, se transformou numa parte gigantesca na vida dos três, que hoje se dedicam a fazer a banda crescer e a produção de novos trabalhos, como o belíssimo single mais recente “Ventos do Norte (Terral)”. Lançado no fim de 2022, apesar das mudanças de formação e os empecilhos da pandemia, a banda se estabilizou, cresceu e se consolidou no cenário.
O processo para a ascensão passa pela interação e o diálogo entre os integrantes. Pedro diz que ele e Lipo majoritariamente trazem ideias, escrevem letras e compartilham uns com os outros, além do produtor João, dessa forma as produções vão saindo do forno.
Por essa trajetória ter se iniciado quando eram todos bem jovens, enfrentaram alguns empecilhos relacionados a questões monetárias, Pedro reflete como no começo eles precisavam pedir carona, desenrolar uma forma de chegar às apresentações, questões com os equipamentos, que são naturais por conta do estágio que se encontravam.
Todavia, com o desenvolvimento da banda, os problemas foram diminuindo. A banda começou a se tornar sustentável, dessa forma o dinheiro gerado com os shows, as músicas, são o suficiente para serem reinvestidos no projeto da Bella. Assim, os integrantes caminham para que eventualmente a banda se torne a única fonte de renda, porém no momento a Bella e o Olmo da Bruxa já é o principal motor das vidas de Pedro, Lipo e Júlia e como diz Pedro. “É meio que nosso trabalho principal, é o que a gente mais… Perde tempo, no sentido incrível de perder tempo é a Bella”.
Pedro diz que ele e seus amigos pretendem lançar o segundo álbum da banda num futuro próximo, com perspectivas de encantar os amantes do Rock Triste em 2024, além da vontade de rodar o Brasil com a Bella, com uma extensa turnê, de Porto Alegre ao Distrito Federal, do Nordeste ao Norte e como disse com suas palavras. “Uma banda grande mesmo”.
Assim como toda banda, eles compartilham o sonho de tocar em grandes festivais como o Lollapalooza e o Rock in Rio, desfrutar da experiência. “Sentir o que é estar lá”. Seguir o bom momento e continuar essa jornada, que proporcionou grandes oportunidades, como tocar ao lado de artistas como Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo e Boogarins.
Pedro espera que daqui a cinco anos eles possam viver totalmente do projeto da Bella e o Olmo da Bruxa e dedicar 100% de seu tempo à banda, para que ela possa alcançar patamares tão grandes quanto o sonho e o talento dos três jovens de Porto Alegre.
