Um dos grandes nomes do Shoegaze no Brasil, quer “zerar” o país
João Victor Fortuna

Felipe Aguiar e Luiz Felipe Marinho decidiram experimentar e mergulharam de cabeça na vertente que cativou milhões ao redor do mundo. Entretanto, não havia uma grande relevância no cenário nacional. A partir da união dos melhores amigos, surgiu a banda gorduratrans, possivelmente o maior nome do Shoegaze hoje no Brasil. Inicialmente na improvisação e sem muito investimento, os amigos provaram da água do Shoegaze e do Noise Rock, e encontraram ali a sua identidade. Foi uma oportunidade para se expressarem e iniciaram a sua jornada no mundo da música, que lhes proporcionou grandes momentos e experiências.
Luiz, baterista e vocalista da banda, compartilha sua relação com o Shoegaze e como as suas influências moldaram hoje o que é a banda. “Nos apaixonamos pelo shoegaze, noise rock, noise pop ao ir descobrindo, redescobrindo, aprofundando nos artistas que curtimos, as grandes referências do shoegaze como My Bloody Valentine, Slowdive, sempre piramos nesse lance mais anos 90 também”.
Ele diz ainda que já eram fãs de Elliott Smith e Jeff Buckley e Dinosaur Jr. “Eles não são exatamente shoegaze, mas estão nesse nosso universo de artistas queridos que certamente nos influenciam até hoje. Daí resolvemos criar um projeto musical juntos, fazendo as coisas do nosso jeito, da maneira possível de fazer naquele momento, e o gordura tá aí até hoje”.
Luiz conta um pouco sobre a trajetória, desde o início no município de Mesquita, no estado do Rio de Janeiro, até o lançamento do projeto mais recente, “zera”, de 2022. “gorduratrans surgiu em 2015, como um duo, eu, Luiz, na bateria e voz e meu melhor amigo Felipe Aguiar, na guitarra e na voz. Gravamos nosso disco de estreia em casa, aqui em Mesquita, na Baixada Fluminense, o “repertório infindável de dolorosas piadas”, que lançamos pela Bichano Records, um selo independente da Baixada que infelizmente encerrou as atividades em 2017”.
Luiz prossegue ao detalhar o lançamento do segundo disco e o processo para a gravação que assim como o primeiro trabalho, foi feito em casa com o que eles tinham ao alcance. “Gravamos o segundo disco, o “paroxismos” em 2017 em um esquema parecido com o do primeiro: gravamos em casa com os equipamentos que tínhamos disponíveis, plaquinha de som, amplificadorzinho emprestado, tudo bem no estilo do Faça Você Mesmo (D.I.Y) – foi nosso primeiro lançamento pela Balaclava Records, selo e editora paulistana pela qual lançamos até hoje”.
O baterista complementa ao contar a experiência da produção do terceiro álbum, que em contraste aos dois primeiros, foi gravado dentro de um estúdio renomado e também a caminhada da banda pelas terras brasileiras, com o privilégio de tocar com grandes artistas e explorar o território do país, ao tocar em quase todas as regiões.
“O trabalho mais recente é o “zera”, de 2022. Nesse, a gente fez diferente e gravamos no lendário Estúdio El Rocha, em SP. Foi a nossa primeira experiência gravando em um grande estúdio. Desde o lançamento do primeiro disco, em 2015, tivemos a oportunidade de tocar quase em todas as regiões do Brasil, com exceção do Norte, que ainda não tivemos a oportunidade, mas deve rolar em breve. Tocamos em festivais e abrimos para artistas incríveis, como a banda Pixies, a Nothing, a The World Is A Beautiful Place, David Pajo, do Slint, entre outros”.
A ascensão de gorduratrans, impulsionada pelo excelente trabalho de estreia, foi acompanhada por outras bandas do segmento que, assim como os rapazes do Rio, preencheram e abrilhantaram a cena brasileira. Bandas como terraplana, Adorável Clichê, eliminadorzinho são exemplos de artistas que, cada vez mais, conquistam seu espaço na música nacional. A banda terraplana ganhou a oportunidade de se apresentar no Primavera Sound, em dezembro próximo, que é um grande evento da música brasileira e uma vitória para todo o segmento do Shoegaze no Brasil.
Apesar das conquistas, o gorduratrans ainda está vivendo o processo. A estrada possui seus obstáculos, pedras no sapato que incomodam e retratam a realidade do país, a realidade de dois jovens que vieram da periferia. “Os obstáculos são os clássicos. Principalmente grana, vivemos num sistema econômico cruel e, vindo da periferia do Rio de Janeiro, com todas as suas especificidades, é realmente um desafio muito grande. Todos os integrantes da banda também trabalham com outras coisas além da banda”.
Entretanto, o futuro é entusiasmante para a banda. Agora com nova formação, com Pedro Simião na guitarra e Gabriel Otero no baixo, o gorduratrans quer “zerar” o país e alçar voos até o norte e tocar Brasil à fora.
“Nosso objetivo é conseguir continuar compondo e lançando coisas novas. Estamos ansiosos para ver o que acontece com quatro mentes trampando juntas ao invés de só duas. A ideia é lançar coisa nova e seguir tocando por aí. E, claro, queremos muito conseguir chegar às cidades e regiões nas quais ainda não tivemos a oportunidade de tocar ao vivo”.
