Por Maria Eduarda Fonseca
Após 15 anos com o grito entalado no peito, a torcida fluminense pode, finalmente, gritar “É CAMPEÃO”

Depois de ver o título da Copa Libertadores da América ir embora para o Equador em 2008, com a LDU, em um jogo emblemático, o Maracanã, dessa vez, ficou verde, vermelho e branco. Pelos pés de John Kennedy, o menino presidente, o Fluminense se consagrou campeão de forma inédita na competição. O atleta, que no começo da temporada era rebaixado junto com a Ferroviária para a série A2 do Paulista, no dia 04 de Novembro de 2023, se tornou história para o clube carioca.
Mas não foi só pelos pés do garoto que a história se fez. Muito criticado e duvidado pela mídia brasileira, o “dinizismo” se mostrou eficiente e capaz de conquistar a América. O começo da trajetória não foi fácil, o Fluminense estava no considerado “Grupo da Morte”, mas isso não deixou o clube se dar por vencido. Nos três primeiros jogos, três vitórias e com direito a goleada por 5 a 1 no River Plate. Mas, depois de perder os dois jogos da volta, chegou na última partida podendo não passar de fase. Apesar da relaxada, o time se classificou em primeiro no grupo, com dez pontos.
Passagem comprada para a primeira partida do mata-mata contra o Argentino Juniors. Jogo tenso com direito a expulsão do lateral Marcelo após uma entrada grave no adversário, mas apesar de tudo, trouxeram o 1 a 1 para casa. No Maracanã, quando o jogo se encaminhava para os pênaltis, Samuel Xavier fez o gol do alívio. E nos acréscimos, John Kennedy ampliou, garantindo o Flu nas quartas.
Contra o Olimpia, o Fluminense não sofreu. Fez 3 a 1 em pleno Defensores del Chaco, onde seu rival, considerado favorito, na fase anterior, perdeu pelo mesmo placar. No Rio de Janeiro, a boa atuação se manteve. Em duas oportunidades, John Kennedy e Cano balançaram as redes e carimbaram o passaporte para a semifinal, só que dessa vez o adversário era brasileiro, o Internacional.
No Maracanã, uma partida tensa que terminou 2 a 2, e contou mais com a sorte do time carioca do que pelo bom futebol apresentado. Na volta, no Beira Rio, o Inter saiu na frente com Enner Valencia, que em seguida perdeu diversas chances que poderiam liquidar a partida. Quando tudo parecia perdido, faltando 6 minutos para o apito final, o Fluminense foi avassalador e contou com eles, John Kennedy e Cano, mais uma vez, para virar a partida e estar a um passo da Glória Eterna.
Rio de Janeiro, 04 de Novembro, Maracanã.
Até então, nenhum clube carioca havia sido campeão da Libertadores no mais emblemático estádio do Brasil. O Fluminense tinha a oportunidade de conquistar, não só uma Libertadores no Maracanã, como também a sua primeira. Contra o poderoso Boca Juniors, que apesar de estar na final sem ter conquistado uma partida no mata-mata, era sua décima segunda finalíssima, e para aqueles que entendem de futebol sabem, a camisa pesa.
Os argentinos invadiram o Rio de Janeiro, foram mais de 100 mil torcedores que chegaram ao litoral brasileiro na esperança de ver seu time levantar a sétima taça e se tornar o maior campeão da competição ao lado do Independiente, mas o sonho não se tornou realidade, pois era o dia do menino de 21 anos, nascido em Itaúna/MG, com nome de presidente, brilhar. Nos minutos iniciais da partida, houve um domínio carioca, mas sem chances claras de gol. Aos poucos, a partida foi esfriando, ambos os times tentavam incomodar mas sem oferecer perigo. Até que aos 34 minutos, Samuel Xavier tabela com Keno, que cruzou para o artilheiro Germán Cano “fazer o L” e abrir o placar. Pela torcida do Fluminense, o jogo poderia encerrar ali mesmo, de tamanha ansiedade.
Na segunda etapa, com o resultado ao seu favor, a equipe comandada pelo técnico Fernando Diniz recuou e deixou a bola com o adversário. Apesar de acreditar no poder defensivo de seu time, o adversário ainda era o Boca Juniors. Aos 27, Advíncula recebe pela direita, e sem interceptações, corta pro meio e empata a partida. O Fluminense, que estava tranquilo, precisava, novamente, acelerar seu jogo. Aos 93 minutos, já nos acréscimos, Diogo Barbosa, que tinha acabado de entrar, teve a bola do título, mas chutou para fora. Mais 30 minutos de prorrogação.
Tudo parecia muito aflito para os torcedores, mas Diniz sabia o que estava fazendo. Ainda no tempo regulamentar, aos 80 minutos, ele escolheu John Kennedy para entrar na partida e disse ao garoto: “Você vai entrar e fazer o gol do título”. Ele sabia de algo. Após 8 minutos da prorrogação, Diogo Barbosa lançou para Keno, que desviou de cabeça para John Kennedy chutar e consagrar o Fluminense Football Club, pela primeira vez, campeão da Libertadores.
O gol do título veio dos pés do jogador que no começo do ano foi emprestado da Ferroviária para o clube carioca por problemas de disciplina. Responsável por abraçar o garoto e trazer de volta para o futebol, Diniz disse em entrevista. “Já perdemos muitos John Kennedys por aí e continuamos perdendo. Eu vou fazer de tudo para ajudá-lo, para ele poder ter uma vida digna no futebol”.
Não só um líder dentro de campo, mas também fora, Fernando Diniz, hoje, é dono da Glória Eterna e promove o silêncio daqueles que duvidaram do seu potencial como treinador por não possuir títulos na prateleira. Hoje, ele dorme como o último campeão da Copa Libertadores da América.
