Paulo “Galo” comenta sobre a problemática dessa nova relação de trabalho, fruto da precarização e informalização
Por Camila Terra

No século 21 surge uma nova relação de trabalho, fruto da precarização e informalização: a uberização. Nela, os trabalhadores atuam de forma autônoma em um modelo de desempenho por demanda de modo que tornam-se responsáveis pelos riscos e custos na profissão.
Ariadne Oliveira, formada em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e residente em Saúde da Família e Comunidade pela Secretaria de Saúde de Jaboatão dos Guararapes (PE), explica que para entender as causas que levaram à uberização é necessário remontar o mercado de trabalho no Brasil e fazer mediações com as questões a nível mundial, que vêm desde a desestruturação do fordismo.
“Mais recentemente no Brasil tivemos a Reforma Trabalhista, no governo de Temer, que colocou vários trabalhos como precários e gerou desregulamentações que prepararam o cenário para a chegada da uberização. Essa medida somada aos quatro anos do governo Bolsonaro representou um grande ataque aos direitos trabalhistas”, completa Oliveira.
Paulo Lima, conhecido como Galo de Luta, motorista de aplicativo que se tornou liderança entre os trabalhadores, vê o fenômeno como um desdobramento da Revolução Industrial, em que, em tese, a máquina funcionaria para auxiliar e melhorar a vida dos trabalhadores, porém, na prática, beneficia o patrão e seu lucro.
“Na época a máquina causou o desemprego, hoje o aplicativo só funciona se tiver o fator do desemprego. Se a Revolução Industrial suprimiu empregos, a uberização serve para suprimir direitos”, expõe o militante.

Oliveira traz como a pandemia influenciou na expansão desse modelo de trabalho, uma vez que, durante o período, o desemprego atingiu 14,9% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O aplicativo fala que você não tem patrão, porém seu patrão é sua conta de água, luz e aluguel, fora isso todo mundo tem um sonho. Eu queria ser um cantor de rap, era dito para mim que quanto mais eu trabalhasse mais eu ganharia, eu trabalhava para sustentar minha família e mais algumas horas para alimentar meu sonho”, relata Galo sobre a ideia de autonomia transmitida pelos aplicativos.
Nathalia Luna, formada em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), problematiza essa ideologia que convence os trabalhadores de que são seus próprios chefes sem enxergar outra pessoa acima dele.
“Essa ideologia empreendedora fragmenta a classe trabalhadora que passa a se individualizar e não pensar mais como coletivo. A partir do momento em que o trabalhador não se enxerga como classe ele não irá compor os movimentos que reivindicam direitos e melhorias”, finaliza Luna.
