Por Beatriz Pagani
A menina estava parada, apenas observando. Os olhos semicerrados analisavam a figura que estava distante o dobro do espaço que parecia realmente estar. Os fios do cabelo, antes longos, agora batiam nos ombros.
“Você não me engana.”
Esperou impacientemente por uma resposta. A outra garota nada lhe respondia, apenas a observava, inexpressivamente. Parecia uma miragem estagnada no espaço e no tempo. O relógio no pulso da outra marcava um horário que nada importava para a menina, mesmo que ela soubesse exatamente que horas eram.
“Você é uma mentirosa.”
Ainda nada. Apenas a mesma feição de quando se encontraram naquela manhã. Os traços faciais permaneceram os mesmos durante todo o dia. A garota sabia disso, mesmo que só tenha reencontrado a outra durante o pôr-do-sol.
“Por que você não me responde?”, questionou. “Eu quero saber o que se passa com você. Costumávamos ser melhores amigas, compartilhávamos tudo uma com a outra. Agora, você anda por aí como se fosse outra pessoa, como se não me conhecesse.”
As palavras que não eram ditas pela amiga ecoavam pela mente da garota.
Estavam naquela tentativa de interrogatório havia dias. Encontros que resultavam em fracasso, mas a garota nunca desistia. Ela ansiava por uma resposta, uma única palavra que fosse. O silêncio nunca lhe bastou. Infelizmente, era tudo o que ela recebia.
“Até quando você vai continuar se comportando assim? Isso é errado. Você mente para tudo e todos, mas mente mais ainda para si mesma. Eu sei como sua mente está cheia. Sei que você sufoca à noite no travesseiro com o peso que sente.”
Elas tinham a mesma altura. Olhavam-se olho no olho. Mesmo assim, a outra não respondia.
“Por que você não consegue dizer a verdade sobre quem é?”
Então, o tempo delas chegou ao fim.
A mãe da amiga chamou por seu nome. Estava na hora do jantar.
— Nós duas sabemos como a verdade é.
A outra pegou o longo pano jogado aos seus pés e cobriu o velho espelho antes de deixar aquele porão empoeirado.
