Festival de música popular em Avaré revela  mudanças do cenário roqueiro local

Por Pedro Henrique Vogt

  Era o final dos anos 90, quando o público da Fampop (Feira Avareense de Música Popular), se reuniu no ginásio de esportes da cidade para acompanhar mais uma  atração musical. O formato da feira, desde as primeiras edições,  propõe um concurso aberto: qualquer um com vontade de enviar uma composição original (e coragem para ter ela analisada por um júri ao vivo) pode participar. Focado no gênero MPB, com professores de formação clássica na bancada, a Fampop estava prestes a sofrer um “abalo” . Um grupo de rapazes de cabelos longos subiu ao palco e começou a executar um riff de blues rock. A música inspirada em Led Zeppelin se chamava “manhã sombria”, e os jovens de atitude Punk eram da banda Encruzilhada.

No dia 15 de Setembro de 2023, os integrantes do grupo subiram mais uma vez ao palco do evento, que chegou à 40ª edição. Tocando em frente de um telão de LED, executaram a música  “Quimera”. O vocalista Chico Sant´Anna relembra  os dias iniciais da banda. “Meu cabelo batia nas costas, eu tinha uma atitude bem agressiva em palco. Hoje em dia eu sou um tiozão que toca Rock and. Roll”.

Completando 28 anos de carreira, a Banda Encruzilhada retornou para a 40ª edição da Fampop (Divulgação/facebook/encruzilhadaoficial)

O cenário roqueiro da cidade é aquecido pela grande quantidade de motoclubes, que organizam shows de bandas de rock locais. Com 28 anos de carreira, a Encruzilhada é uma das veteranas nesta cena. Formada em meados dos anos 1990, por amigos de adolescência, de maneira informal para tocar covers, a banda acabou se tornando um projeto duradouro, com músicas próprias e figuras conhecidas na Fampop.

Chico descreve sua primeira participação no evento como “traumática”, devido ao estranhamento dos jurados, naquela época, com a sonoridade elétrica. A presença do grupo no festival, segundo ele, foi se tornando mais aceita conforme os integrantes ganhavam relevância e experiência. “A gente viu que existia a possibilidade de, mesmo fazendo um rock and roll, entrar no festival de MPB e mostrar nossa cara. A gente sempre tem certeza que  nunca vai ganhar (risos), mas o lance é participar”, ressalta.   “Antigamente a gente era classificado de ruim, hoje em dia a gente é classificado de: ‘Ah! Eles não me agradam…’”, conta. 

A Fampop estreou em julho de 1983, idealizada por um grupo de amigos que, em conjunto com a prefeitura, resolveu  organizar um evento para divulgar a MPB, e retomar uma antiga tradição regional. A cidade já havia sediado a Feira Avareense de Música Popular (Frempa), um fruto da popularidade dos festivais de música brasileira na época, descontinuada depois de quatro edições. Mais bem-sucedida que sua antecessora, a Fampop ainda é responsável por movimentar o cenário cultural de Avaré uma vez por ano, mesmo depois de quatro décadas. Durante esse tempo, foram criadas  novas categorias no evento (instrumental, melhor intérprete, melhor canção avareense), focadas em gerar mais oportunidades para os artistas da região.

Essa intenção de ampliar  o festival  levou à criação da chamada “Fampopinha estudantil”. Na primeira edição, em 2022, cinco estudantes do Ensino Médio decidiram se  reunir para formar a banda Plynia, buscando uma sonoridade “Old School de Respeito”, como descrita em seu perfil do Instagram (@banda_plynia).

Banda Plynia na última Fampopinha, realizada nos dias 24 e 25 de Agosto de 2023 (Divulgação/ Instagram/@banda_plynia)

O guitarrista da Plynia, Carlos Mariano, define a mistura de sentimentos que sentiu  ao subir num palco tão grande pela primeira vez. “Não tínhamos combinado com ninguém para ir [assistir nossa apresentação], e já tinha torcida organizada para os outros participantes. A gente tocou, deu a cara, fizemos uma música de rock, e a galera aplaudiu, me senti realizado. O meu sonho era poder criar uma música, tocar e a galera curtir, e graças a Deus conseguimos levar o segundo lugar”.

 Os membros da Plynia retornaram para a segunda edição da Fampopinha em 2023, com uma nova composição, depois de passarem um ano tocando nos moto clubes da cidade, “A festa fora do palco, obviamente, foi muito maior do que no ano passado, pessoas fazendo cartazes… Foi maravilhoso, a composição foi melhor, foi muito mais mágico, eu não sei descrever direito o porquê, mas foi”, comenta o baixista Nathan Cunha.

 Já acostumado com o funcionamento do festival e o enfrentamento de problemas técnicos, Chico Sant’Anna também contou sobre  sua experiência no evento principal deste ano. “Toda apresentação de uma única música é meio caótica, sem aquecimento, sem nada. Ontem o som não estava regulado. Saindo fora do compasso… é normal, é natural”, ressalta. “A gente já até espera isso, quando a coisa sai muito perfeita até falamos, ‘o que que aconteceu? ’”, brinca.

 Sobre as novas gerações redescobrindo o Rock, Chico considera esse processo um “círculo virtuoso”. E declara: “As coisas perdem espaço, mas elas não deixam de existir. Tudo sempre vai andar e progredir, nunca morrer”. Para os músicos iniciantes, deixa o aviso de que nada na vida de artista é fácil, mas ressalta a importância de deixar a própria marca nos palcos.  “Quando a gente não tem a possibilidade de fazer o que gostaria, o mínimo que a gente consegue já é o máximo”.

Apesar dos 28 anos de história da Encruzilhada, Chico acredita que a banda ainda vai continuar na estrada,  por conta do carinho dos integrantes com o projeto. O foco dos músicos agora são canções originais,  com a produção de um disco completo com 10 músicas autorais. As notícias sobre o lançamento do álbum sairão no Instagram @encruzilhadaoficial, e estará disponível no Spotify.

Já os integrantes da Plynia, envolvidos com a rotina de estudos para os vestibulares, contam que a banda terá de interromper temporariamente os ensaios e apresentações. Apesar do anúncio, o guitarrista Carlos Mariano diz que o grupo não vai desistir de retornar aos palcos, em breve, e garante, convicto: “A Plynia não vai Morrer!”. 

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