Com a candidatura de filho de magnata a presidência no Equador, esquenta o debate sobre a influência de capitalistas selvagens na política

Por Nathan Nunes

Neste domingo, dia 15 de outubro, o empresário de direita Daniel Noboa vai disputar o segundo turno das eleições presidenciais no Equador contra a advogada de esquerda Luisa González. Tendo conquistado cerca de 24% dos votos da população no primeiro turno, o candidato da ADN (Ação Democrática Nacional) vem sendo considerado uma alternativa do país ao Correísmo da candidata opositora, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa.

Daniel é filho do magnata das bananas Álvaro Noboa, que se candidatou cinco vezes ao pleito e, em três delas, conseguiu chegar ao segundo turno. O liberal já declarou oficialmente que possui um patrimônio menor que o do pai, mas sua candidatura levanta um debate que se estende para o mundo todo: ser bilionário ajuda a ser presidente?

Juarez Xavier, professor do curso de Jornalismo e vice-diretor da FAAC, argumenta que existem motivações históricas que embasam o interesse de bilionários na política. “Desde o Consenso de Washington, em 1989, com a ação articulada de todos os organismos financeiros internacionais, foi promovida a destruição de políticas públicas, com os interesses globais das burguesias nacionais. A fragilidade delas, com a redução dos recursos para assegurar direitos sociais e de enfrentamento às desigualdades, abriram espaços para a extrema direita na política”.

A direita, citada por Juarez, teve Donald Trump, também um bilionário, como um de seus principais representantes na política internacional. Algumas propostas de Noboa, como a intenção de construir uma prisão em alto-mar para condenados violentos, podem ser vista como um aceno ao extremismo do ex-presidente dos Estados Unidos.

Contudo, para Juarez, a política não é uma receita pronta. “Há muitos fatores que podem determinar o resultado de uma eleição. Quanto mais polarizada é uma disputa, mais variáveis existem que possam influir em um processo eleitoral. No ambiente tóxico da política norte-americana pós- Obama, por exemplo, Trump lidera em intenção de votos, inclusive se for condenado à prisão”.

“A tradição por si só também não elege, veja o caso da família de Tancredo Neves, que não conseguiu emplacar os seus ‘herdeiros’ políticos. Na onda da extrema direita, muitos não-políticos ou maus políticos, como no caso do Brasil, elegeram-se sem grandes tradições políticas de qualidade e sem ser bilionário. Há muito mais fatores que podem implicar o resultado de uma eleição, em particular em um ambiente polarizado,” destaca Juarez.

“No Equador, numa das mais violentas eleições do continente, Daniel Noboa é representante da grande burguesia nacional. Possui vínculos internacionais e interesses que não estarão alinhados às expectativas do segmento mais empobrecido do país, em especial a população indígena,” salienta o professor.

Maximiliano Martin Vicente, também professor do curso de jornalismo na Unesp Bauru, comenta que, a favor de uma carreira política, não pesa nem a experiência dentro do meio, nem o acúmulo de capital. 

“Tudo depende de ter maioria, ou não, no Congresso formado, das alianças feitas na disputa eleitoral, da capacidade de diálogo, dentre outros fatores. Nesse sentido, um empresário pode se dar bem e um político mal”.

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