A sociedade não encara o artesanato de rua como trabalho artístico. Mesmo assim, artesãos buscam seu espaço e seu valor
Por Laura Santos
Um dos maiores desafios para quem vive de artesanato é a dificuldade de transformar sua arte em uma fonte de renda. Isso porque não há apoio ou incentivo governamental para que os artesãos consigam viabilizar seu negócio.
Ainda mais em uma sociedade onde o ideal de vida é ter uma fonte de renda extremamente lucrativa e em que a felicidade e a qualidade de vida ficam atrás dos bens comerciais. Assim, viver da própria arte parece algo impossível.
“É muito descaso, eu vejo muita dificuldade das pessoas que são artistas permanecerem. Estou aqui pra realmente permanecer porque hoje eu tenho meu jeito pra lidar com as coisas”, afirma Maisa Adrielle da Silva (33), que há nove anos vende seu artesanato no Centro de Bauru.
Em busca de qualidade de vida e de mais tempo com a família, a artesã decidiu trabalhar vendendo sua arte. “Eu acabei buscando a minha autonomia dentro do que eu já fazia”, diz Maisa.
Para muitos artistas, a independência se torna inalcançável, devido a fatores sociais e econômicos e ao enorme preconceito social. Artistas se vêem sem rumo ou desmotivados com sua arte e seu espaço profissional.
O pertencimento artístico é uma perspectiva que assusta as pessoas, que se veem presas na monotonia do trabalho tradicional.
“O trabalho artístico é um trabalho de criação, é um trabalho em que a pessoa precisa de uma reflexão, a pessoa precisa de muita liberdade para poder criar. Então, essas coisas vão gerando estranhamentos e preconceitos”, diz Eliane Grandini Serrano (55), professora do curso de Artes Visuais da Unesp.
Também o incentivo a novos artistas e novas formas de arte é uma realidade pouco vista no país, mesmo com a existência de incentivos como a Lei Rouanet, que visa dar apoio financeiro para iniciativas artísticas e culturais.
Porém, seu funcionamento é pouco conhecido, além de ter passado por reduções drásticas de valores, medidas realizadas pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“A Lei Rouanet é um ótimo instrumento político para as artes, porém não abrange toda a demanda que temos. Isso também é fruto da falta de uma política pública municipal, regional e estadual de incentivo às artes também, e a lei ainda poderia ser ampliada”, diz a professora Eliane.
Mas não é apenas o artesanato que sofre com a falta de apoio. Sempre vemos a arte fechada em espaços extremamente elitizados, como galerias e museus, o que nos leva a pensar que a valorização artística precisa levar a arte para todos os espaços, promovendo uma democratização do acesso, e não usando a arte como um produto exclusivo da elite.
“Precisamos entender que a arte é para todos. Que os espaços de arte são democráticos e devem receber a todos. E essa valorização precisa começar a acontecer”, conclui a professora.
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