
Por Isis Bianco
Com o fim das eleições primárias, a Argentina se prepara para a disputa eleitoral que acontecerá no dia 22 de outubro deste ano. Após anos de uma crise econômica sistêmica que levou cerca de 40% da população à pobreza, o clima do país demonstra uma grande insatisfação política por parte dos cidadãos com os governos anteriores.
Historicamente, a Argentina possui uma divisão política entre a esquerda peronista, movimento político surgido na década de 1940 liderado por Juan Domingo Perón, e a direita neoliberal. Ambas as alas não foram capazes de solucionar os problemas econômicos do país e o resultado desse sentimento foi a vitória de Javier Milei nas eleições primárias deste ano.
Apesar da necessidade de mudanças, as abstenções durante as eleições primárias de 2023 bateram um recorde, segundo dados oficiais divulgados pela Direção Nacional Eleitoral, 30,38% dos eleitores optaram por não exercer o voto, mesmo sendo obrigatório no país.
Para Eduarda Apoitia, mais conhecida como Duda Bolche nas redes sociais, formada em relações internacionais pela Universidade Federal do Pampa e mestre em integração regional pela Universidad de la República, a mensagem dessas eleições demonstra uma saturação dos cidadãos com as classes políticas como um todo.
“A população, estando ciente ou não do que consiste o Milei, está votando por uma mudança visto que, na teoria, ele se opõe a tudo que é tradicional”, afirma.
Os últimos governos ilustram bem o descontentamento da população com o legado político do país. Eleito em 2015, Mauricio Macri assumiu a cadeira presidencial com uma agenda neoliberal para encontrar uma saída para a crise econômica e colocar, novamente,o país rumo ao desenvolvimento. Porém, 3 anos depois, os resultados foram opostos, com uma queda do PIB de 6,2%, aumento do desemprego e a dívida externa com o FMI, Fundo Monetário Internacional, mergulhou ainda mais o país na crise.
Descontentes com a falta de resultados e o agravamento dos antigos problemas, a Argentina optou por procurar soluções no campo político oposto, a esquerda-peronista, elegendo Alberto Fernández como presidente. O resultado também não foi satisfatório e, apesar de pautas sociais terem sido colocadas em prática, não houve uma melhora significativa na economia.
Para Eduarda, “faltou do Alberto Fernández uma mudança estrutural necessária ao governo do Macri e isso acabou aprofundando todos os problemas econômicos na Argentina ainda que, no campo social, tenham existido alguns avanços mas não o suficiente para abarcar as dificuldades materiais da população”.
Este ano, Alberto Fernández se despede do cargo e entrega um país tomado pela inflação que, segundo o Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censo), atingiu no dia 14 de setembro, 125,2%.
Além disso, o fim do mês de agosto foi marcado por uma onda de saques a lojas e supermercados, o que aumenta o medo dos eleitores, tornando o resultado da eleição ainda mais imprevisível.
Ao ser questionada sobre o que é esperado do próximo governo argentino, Eduarda diz: “O que seria desejável para a Argentina hoje é a criação de um projeto de combate à desigualdade, de controle econômico e principalmente uma resolução efetiva para a situação do FMI”.
O primeiro turno das eleições argentinas acontecerá em menos de um mês, no dia 22 de outubro e, apesar da vitória de Milei nas primárias, ainda não é possível declarar a vitória do candidato.
Contudo, é possível afirmar que, nos últimos anos, a América Latina como um todo foi palco de extrema polarização política que busca em diversos representantes um futuro melhor para o seu país. Dessa forma, nos resta aguardar a decisão dos nossos hermanos sobre o futuro da Argentina.
