Por Thaís Evangelista
Cenário musical em que músicos, produtores e até mesmo promotores de eventos são majoritariamente homens, a presença feminina no Rap ainda está em segundo plano
Emicida, Marcelo D2 e Mano Brown são todos artistas que possuem uma grande influência no rap brasileiro. Mas, além de sua importância, o que eles também possuem em comum é serem todos figuras masculinas. Quando a cultura do hip hop entra em pauta, artistas como esses ganham visibilidade, o que nos leva a questionar onde estão as mulheres do rap.
De acordo com uma pesquisa feita pelo Itaú Cultural, a figura feminina no rap no Brasil representa apenas 8%, e esse número continua extremamente baixo em outros gêneros musicais. A questão com a cultura hip hop — mais especificamente o rap — e a falta de mulheres no meio pode ser controversa, visto que o rap se baseia em contextos sociais, culturais e econômicos da sociedade. O palco principal do gênero é a periferia e o reflexo do preconceito, tendo como chave principal uma representação da realidade que o público possa se identificar.
Por isso, perguntamos: onde estão as mulheres para expandir essa identificação? Artistas como Negra Li, que em 2004 foi a primeira mulher rapper a assinar contrato com uma gravadora, relata em entrevistas e em suas próprias músicas como o rap pode também ser um universo machista. Onde músicos, produtores e até mesmo promotores de eventos são majoritariamente homens, a presença feminina fica em segundo plano.
Presença das mulheres
As mulheres estão presentes em diversas áreas do hip hop, seja o rap, na dança, e até em batalhas de rimas. Em Bauru, existem diversos eventos que exploram essa cultura, como a Batalha dos Treze, e também a Semana do Hip Hop, onde se pode observar as figuras femininas ganhando palco. Paula Ferbones, de 26 anos, é espectadora desses eventos e mora em Presidente Prudente.
Para Paula, a cultura do Hip Hop ainda é pouco compreendida e marginalizada, mas os homens acabam tendo uma repercussão muito maior e são levados a sério. “Ainda existe muito desrespeito sobre o que é produzido por mulheres, é como se elas fossem uma sub classe. Do que vivi em Presidente Prudente e em São José do Rio Preto, os grupos que são organizados por homens sempre têm um público maior, e possuem mais artistas masculinos se apresentando, e tenho a sensação que nesse processo de popularização entre os jovens houve um esvaziamento da cultura do rap, empobrecendo as reflexões”, comenta.
A espectadora ainda enfatiza que, em grupos organizados por mulheres, existe uma maior pluralidade de artistas. Apesar das reflexões serem mais profundas, o público ainda é bem escasso.
Paula ainda cita que as mulheres dentro do rap carregam certos estigmas. “Temos que dar a oportunidade para que essas artistas sejam consumidas, conhecidas e reconhecidas. Seja compartilhando com amigos que possam gostar ou somente as divulgando nas redes sociais”.
Ela ainda diz que a TV aberta poderia dar espaço e visibilidade para essas artistas, convidando-as para programas abertos ao público.
Foto destaque: Reprodução/Osman Yunus Bekcan/Unsplash
