Em rebelião conjunta, presidiários de seis instituições diferentes  fizeram 57 agentes penitenciários e policiais de refém

Bernardo Corvino

Quito, Equador (Reprodução / Wikimedia Commons)

A onda de violência no Equador escancara a crise de segurança e política no país. Na última quinta-feira (31), em rebelião conjunta, encarcerados de seis presídios diferentes fizeram juntos 56 reféns. Entre eles havia agentes penitenciários e policiais. Todos foram liberados na manhã do dia primeiro. 

Horas após a notícia da rebelião, houve a explosão de três carros-bomba. Os veículos estavam  localizados em frente aos prédios da agência responsável pelo sistema penitenciário do Equador, um em Quito, e outros dois na província de El Oro, próximo à fronteira com Peru. 

No sábado (2), houve  mais uma explosão, desta vez na ponte que liga as cidades de Machala e El Guabo, em El Oro. Após a explosão, a passagem foi fechada.

Uma outra ponte chegou a ser atacada, entre as cidades de Archidona e Tena. O prefeito de Quito, Pabel Muños, declarou que três granadas foram detonadas naquela madrugada.

Pelo menos dez suspeitos de participarem nos crimes já foram presos em Quito.

O analista de segurança da Colômbia, Hugo Acero, explicou que os responsáveis pelos ataques estão operando pelo manual dos narcotraficantes. “Uma cartilha velha, que faz referência à época de Pablo Escobar. Ações que buscam intimidar, criar terror, mostrar poder e exigir que não se toque nas estruturas criminais”, disse em uma coletiva.

Ainda de acordo com Acero, os ataques provocam pressão social sob o governo justamente no momento em que alguns criminosos estão sendo transferidos de penitenciárias. 

Antes considerado um dos países mais seguros da América Latina, Equador se encontra refém de operações de gangues e massacres, que desde 2021 já causaram mais de 430 mortes.

No primeiro semestre deste ano, a Polícia Nacional registrou 3.568 mortes violentas no país, em contraste com as 2.042 registradas no mesmo período de 2022.

Em entrevista para o jornal Estadão, a Secretária de Segurança de Quito, Carolina Andrade, declarou que os ataques da semana passada deixam evidente a fragilidade da segurança nacional. 

“A reação da sociedade aos atentados foi de medo, de terror. E da parte do município, mais uma vez, foi de exigir que o governo central faça algo a respeito. A segurança no Equador é uma responsabilidade do governo central. Os governos locais têm uma responsabilidade compartilhada nos domínios da violência e da prevenção da criminalidade, mas não no crime organizado nem nos serviços de inteligência”. 

Na opinião de Andrade, a situação saiu do controle das autoridades do Equador. “Estes atos de violência voltam a pôr à prova a capacidade do Estado de alertar para novas ações do crime organizado, especificamente de grupos locais e nacionais de violência organizada, como Los Lobos e Los Tiguerones, que têm interesse em controlar e monopolizar as redes de tráfico para consumo interno.”

“Não é por acaso que estes acontecimentos se desenrolaram nos arredores dos locais onde funcionava o SNAI, ou seja, o organismo que substitui o Ministério da Justiça na gestão das prisões, mas também na implementação de toda uma política de reabilitação social”, opinou a Secretária de Segurança.

Para ela, a resposta dos departamentos de polícia municipais, que quase sempre chegam nos culpados de operações criminosas, é melhor do que a da federal. Entretanto, a municipal tem dificuldade para conectar os crimes com o líder intelectual. “Nosso sistema de inteligência está totalmente enfraquecido”, disse.

O país passará pelo segundo turno das eleições presidenciais no dia 15 de outubro, o que deixa o futuro do Equador ainda mais incerto. O candidato Daniel Noboa tem uma campanha muito focada na segurança equatoriana. “Gerar confiança internacional, gerar segurança interna, segurança cidadã, reduzir o índice de mortes violentas e dar tranquilidade à população”, afirmou para a imprensa. 

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