Com rotina dedicada e simples, artistas de rua levam alegria ao público
Por Mateus Ferreira
Fim de tarde, retornando para a casa, no trânsito caótico de um horário de pico. Cansado e com pressa, o sinal se fecha, e surge então alguém na faixa de pedestre, na frente do sinal vermelho.Com sorriso no rosto, começa a fazer malabarismo ali na frente. Entre bolas, clavas, facões e outros objetos, o intuito é o mesmo: levar alegria ao público e garantir um ganha pão. São artistas de rua. Faça chuva, frio ou calor, é possível encontrá-los se apresentando em frente aos carros em semáforos de ruas centrais de Bauru.
É considerado um artista de rua qualquer indivíduo que se apresente em locais públicos, com a intenção de divulgar o seu trabalho, ao mesmo tempo que busca levar entretenimento às pessoas que circulam naquela região. Os artistas que se apresentam em semáforos contam com aproximadamente um minuto para se apresentar e impressionar os motoristas. Esse é o caso de Rodolfo, 27 anos, e Mathias, 26 anos, que começam a sua rotina logo pela manhã. Fazem uma pausa para o almoço em algum período da tarde e retornam ao trabalho antes das 16h. Seguem até próximo das 20h, quando encerram o dia cansativo, mas recompensador. Todos esses artistas mostram uma disciplina e constância em seu trabalho.
“Eu sempre gostei de ser livre, eu tive várias escolhas desde pequeno, e eu escolhi a arte de rua, a arte circense”
Liberdade
Rodolfo Freitas nasceu em São Paulo, é malabarista há doze anos. Desde pequeno se interessava por artes circenses, conversava com artistas que se apresentavam no farol querendo aprender os truques. E os artistas o ensinavam. Aos 15 anos, escolheu a arte como caminho, mas não por ser a única opção disponível e sim pelo seu “amor pela liberdade”.
Com uma rotina como qualquer outro trabalhador, Rodolfo mantém uma vida regrada e simples. Ele conta que tem coisas que acontecem no seu dia que são significativas. “Arrancar um sorriso, um abraço, ajudar um senhor de idade ou um cadeirante a atravessar a rua, isso são coisas que eu vivo todo dia e que dinheiro nenhum pode pagar”, diz.
Com destino ao Paraná – Rodolfo já passou por várias cidades da região como Jaú, Pederneira e Lençóis Paulista – ele acredita que todo artista deve sempre aproveitar cada lugar para inovar e aprender com a cultura local. Além de aproveitar a liberdade para se manter em movimento.
Para o argentino Mathias, praticante de artes circenses há 10 anos, a história não é muito diferente. Aproveitando a liberdade e seu amor pela arte, deixou tudo para trás em seu país de origem. Até chegar ao Brasil, passou pelo Paraguai e Bolívia, tudo isso de bicicleta. “A bike vai quebrando e eu vou consertando ou adquirindo outra, a arte de rua me permite fazer isso”, afirma. Sempre fazendo as mais variadas performances artísticas, ele conta com repertório que vai de estátua viva a malabarismo. Já até se aventurou na pirofagia, que é a arte de cuspir fogo.
Com apenas seus objetos pessoais e ferramentas de trabalho, ele destaca que consegue pedalar até 50 quilômetros por uma rodovia em bom estado com sua bike. Sem tempo fixo em cada cidade e sempre em movimento, ele confirma apenas estar de passagem por Bauru.

Preconceito e desvalorização
Esses dois artistas que viajaram por muitos lugares, e estão de passagem por Bauru, acreditam que a cidade é um bom ponto para trabalhar, com muitos semáforos, público grande, mas também apresenta desafios.
Mathias afirma que a arte de rua ainda enfrenta muito preconceito. “O brasileiro até gosta da arte de rua, mas ainda vê os artistas de outro jeito, não olham o artista como um artista.” Em Bauru, já chegou a vivenciar situações de insultos. “Tem gente que me manda procurar emprego” O argentino fez performances de estátua viva no calçadão da rua Batista de Carvalho, além de suas performances em semáforos. Diz que em ambos os espaços enfrentou situações de preconceito.
Rodolfo considera Bauru uma “cidade legal” e conta que teve boa recepção do público. Mas que tudo depende da presença, da maneira de conversar e de se vestir. “Se o pessoal vê você bem vestido e com um sorriso no rosto, eles te tratam bem, agora se você estiver cheirando mal e acharem que você tá ali para fazer algazarra, aí não rola.”
Tanto Mathias quanto Rodolfo afirmam que, apesar dos preconceitos, não pretendem mudar de profissão ou parar suas performances tão cedo. “Eu posso um dia mudar e ir fazer outra coisa, mas não quero, e nem vou deixar de ser artista, porque quem se considera artista, sempre vai inovar sua vida e sua arte” disse Rodolfo, momentos antes de retornar ao trabalho e começar humildemente a sua performance embaixo dos sinaleiros de Bauru.
