Na quadra 5 da Batista de Carvalho, em Bauru, a artesã mostra sua arte: colares, pulseiras, anéis e tapetes 

Por Laura Santos

“Não quero só vender as minhas coisas, eu quero que isso seja uma alternativa de vida para outras pessoas, porque pra mim é, me salva”. Quem diz isso é Maisa Adrielle da Silva, de 33 anos, que há nove anos vende seu artesanato no Centro de Bauru.

Instalada na quadra 5 da Batista de Carvalho, ela tem na sua frente uma mesa longa repleta de colares, pulseiras, anéis e tapetes. À sua volta, pendurados em tripés e ao redor da mesa, estão, segundo a artesã, o trabalho que é mais especial para ela: o filtro dos sonhos, com diferentes cores e formatos faz com que qualquer pessoa pare para apreciar.

O artesanato de rua possui características únicas, mas que são facilmente reconhecidas. Geralmente está exposto em mesas cobertas por um tecido preto ou até mesmo no chão, sempre em centros comerciais ou praças onde o fluxo de pessoas é grande.

“A gente já sofreu algumas denúncias por conta das pessoas se incomodarem, dos lojistas se incomodarem com a nossa presença, a arte em si é muito discriminada”, explica Maisa.

Esta forma de arte costuma ser fortemente rejeitada e atacada pela comunidade, por conter princípios e características que são tabus e estar presa no estigma da desvalorização artística, onde viver da própria arte e se sentir completo com a simplicidade que isso carrega é algo devastador para uma sociedade capitalista.

As peças são carregadas de significados e beleza, mas são vistas por muitos de uma maneira negativa, por serem, em grande parte, objetos e símbolos originários de religiões constantemente perseguidas. 

Um exemplo disso é o filtro do sonho, que é um amuleto típico da cultura indígena norte-americana, e tem o poder de purificar as energias. “É tudo encantador, mas os filtros dos sonhos sem dúvida mexem comigo”, diz Maisa.

Ela vende seu artesanato na Batista de Carvalho às sextas e sábados. Nos demais dias, Maisa conta que dá aulas no CRAS (Centro de referência da assistência social) para alunos de todas as idades.“ Tem uma aluna minha que tem 67 anos, é bem variado”, completa a artesã. 

Maisa também é convidada para eventos e oficinas artísticas. Ela conta um pouco sobre a mais recente, que ocorreu dia 12 e 15 de setembro no Sesc, onde ela ministra uma aula de filtro dos sonhos.

Pergunto à artista se ela se lembra da primeira peça que produziu, e com muita empolgação ela aponta para uma pulseira fina e colorida. “Essa aqui é Macramê, é o que eu ensino lá no CRAS. Minha irmã, ela estudava no Rio Grande do Sul e toda vez que ela vinha, ela trazia uma pulseirinha para mim, desmanchei a que eu tinha e fui tentar fazer e aí eu consegui e nunca mais parei”.

A arte sempre foi algo muito presente na vida de Maisa, com grande influência de sua mãe, que também fazia produção artística. “Meu pais são artistas, então eu cresci no meio da arte”.

Antes do artesanato fazer parte integral de sua vida, Maisa Adrielle passou por alguns trabalhos cotidianos, como auxiliar de limpeza e gerente de loja, o último antes de se tornar artista, que ela conta com mais detalhes. 

“Quatro anos que eu tinha horário pra entrar e não tinha horário pra sair, foi quando eu conheci o pai da minha filha, na época isso começou a me incomodar, porque eu não conseguia ir pro barzinho e tomar uma cerveja, eu vivia exausta, cansada”.

No meio da entrevista, a artesã dá uma pausa para atender uma cliente já conhecida. Com muita simpatia, ela pergunta o que a moça procura. A pessoa olha pela bancada e não encontra a peça que deseja, explica para Maisa, que rapidamente diz que irá fazer a peça para ela e avisa quando estiver pronta.

Esgotada com o serviço, a artesã conta que com dois anos de empresa descobriu que seu fundo de garantia não estava sendo depositado, e por ter feito um financiamento, não poderia sair dali tão cedo. “Eu sempre achei que quando eu tivesse oportunidade eu ia investir no meu negócio, e quando eu soube que o meu dinheiro não estava sendo depositado fiquei mais dois anos e na primeira oportunidade eu saí”. 

Ao sair da empresa, Maisa conta que levou quatro meses para que sua rescisão fosse depositada. “Eu quase perdi meu carro, e a minha sorte foi a arte, a arte que me salvou esses quatro meses. E foi aí que eu vi que não podia parar”. 

E foi por mais autonomia e qualidade de vida que Maisa decidiu sair do serviço e viver de sua arte. Hoje ela se encontra feliz com seu trabalho, porém seu objetivo é crescer mais e levar sua arte para as pessoas. 

“Já fui muitas vezes ao Sesc para ver artistas incríveis, estar dentro de um lugar tipo o Sesc é incrível. Eu como artista estar lá era um sonho e aconteceu, agora quero estar em todo Sesc, de Araraquara, Sesc Sorocaba e ser cada vez mais inspiração, poder ensinar, além do que eu só vendo”. 

Hoje Maisa divulga seu trabalho pela sua página no Instagram Moda Crespa (@modacrespa_), o nome da marca, como explica a artesã, vem com o significado de empoderamento e representatividade e identidade dela como uma mulher preta. 

“Acredito que a moda é um ato político e uso a arte para transmitir minha luta através dos meus artesanatos”, diz Maisa em um de seus posts nas redes sociais. 

Histórias como a de Maisa e assim como seu trabalho artístico são pontos chaves para que a sociedade abra seus olhos para o que está além do convencional, e se mostre aberta a novas expressões artísticas, culturas e movimentos.

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