Dirigido por Christopher Nolan, Oppenheimer nos apresenta a história do ‘pai da bomba atômica’ um homem enigmático, que com o intuito de salvar o mundo arriscou a destruição dele.
Por Marina Merli
Filme que está com sua data de lançamento para 20 de julho de 2023, uma das grandes apostas da Universal Studios com um orçamento de 100 milhões de dólares, com a direção de Christopher Nolan – o cineasta da trilogia d’O Cavaleiro das Trevas (2008), A Origem (2010) e Tenet (2020), Oppenheimer é o próximo projeto de Nolan, conta com um elenco de peso como Cillian Murphy, Matt Damon, Emily Blunt, Robert Downey Jr.,Florence Pugh, Rami Malek e Benny Safdie para contar a vida do físico que desenvolveu a bomba atômica.
“Agora eu me tornei a morte, a destruidora de mundos”, declarou o
físico certa vez, usando palavras do texto sagrado hindu Bhagavad Gita.
Mas o que levou o ‘pai da bomba atômica’ a isso? Entenda brevemente como tal arrependimento o perseguiu até o final de sua vida.

“Oppenheimer” resgata a história do homem considerado o ‘o pai da bomba atômica’ | foto: Universal Pictures/ foto retirada do Google Imagens.
J. Robert Oppenheimer, nasceu em 22 de abril de 1904, foi um renomado físico teórico e cientista norte-americano. Ele é mais conhecido por seu papel de liderança no Projeto Manhattan, que resultou no desenvolvimento da primeira bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial. Oppenheimer foi recrutado pelo governo dos Estados Unidos devido ao seu conhecimento excepcional em física teórica e se tornou diretor científico do projeto.
A contribuição de Oppenheimer para o Projeto Manhattan foi fundamental. Ele
supervisionou a equipe de cientistas que trabalhou no design e na construção da bomba atômica. Sua habilidade em liderança e sua mente brilhante foram cruciais para coordenar os esforços de uma equipe multidisciplinar de cientistas e engenheiros. Em 16 de julho de 1945, o teste Trinity, o primeiro teste bem-sucedido de uma bomba atômica, foi realizado no Novo México sob a supervisão de Oppenheimer e nesse momento ele teve a noção do poder de destruição do que havia criado. Após três semanas do sucesso do teste, as bombas foram lançadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. Estima-se que entre 150 a 250 mil pessoas morreram com as explosões nos dias 6 e 9 de agosto.
Mas foi ao final da guerra que Oppenheimer enfrentou um período conturbado em sua vida. Ele expressou um profundo arrependimento e lamentou profundamente as mortes causadas por sua ‘criação’ e logo após começou a se preocupar com a ética sobre o uso de armas nucleares e se tornou um defensor do controle de armas. Essas posições
levaram a uma intensa observação por parte do governo dos Estados Unidos, que inclusive suspeitou que o cientista tinha envolvimento com o governo soviético. Mas durante a era do macarthismo, houve sua suspensão de suas credenciais de segurança
em 1954.
Apesar das dificuldades pessoais e da suspensão de suas credenciais de segurança,
Oppenheimer continuou a fazer contribuições significativas para a ciência. Ele se tornou professor na Universidade de Princeton e envolveu-se ativamente na pesquisa teórica física. Seu trabalho na teoria das partículas elementares e na teoria quântica de campos estabeleceu as bases para avanços posteriores nesses campos.
J. Robert Oppenheimer foi diagnosticado com um câncer grave na garganta e mesmo com cirurgias e quimioterapia, faleceu em 18 de fevereiro de 1967. Mesmo em seu leito de morte o cientista lamentava-se do que havia feito e ele lamentou não ter tido sucesso nas suas ambições de controle de armas, ter sido incapaz de frear o aumento dos grandes arsenais e das milhões de vidas que foram tomadas.

“Oppenheimer” resgata a história do homem considerado o ‘o pai da bomba atômica’ | foto: Universal Pictures/ foto retirada do Google Imagens.
Nolan possui uma grande responsabilidade ao contar a história de um dos maiores nomes da física. “Se estamos falando de documentários, com certeza seria relevante. Mas como estamos falando de um filme com um grande orçamento, feito para ser exibido em quase todos os cinemas do mundo, acredito que ele tem sim suas relevâncias, se bem executado. Acredito que seria interessante tornar esse lado um pouco mais obscuro da história da 2°Guerra Mundial; conhecido. A maioria das pessoas não sabem o contexto e pessoas por trás do desenvolvimento da bomba atômica”, diz Francisco Eduardo de Souza Lima, estudante da Faculdade de Ciências da UNESP de Bauru.
Uma coisa que sempre se tem um pé atrás nesse tipo de produção biográfica é em
relação a romantização da história. “Eu acho que o cinema vem para somar nas nossas vidas, pois cada vez mais as pessoas preferem as adaptações do audiovisual do que aos livros. Fora que um filme é muito mais dinâmico, se emocionar com um filme é muito mais fácil. Não que um substitua o outro, vai do gosto de cada um.
Já tivemos outras adaptações da história de grandes nomes da física como John Nash e Stephen Hawking.”
“Mas o cinema vem para isso, tornar os fatos históricos mais palpáveis e de acesso a todos em virtude da falta de livros mais acessíveis.” diz a professora Renata Mori Perroni Abud e continua “Mas o cinema vem para isso, tornar os fatos históricos mais palpáveis e de acesso a todos em virtude da falta de livros mais acessíveis.
O cinema tem essa função né? De romantizar para poder agarrar a atenção do telespectador. Acho que o filme de Oppenheimer vá sim ser romantizado e não tão fiel à realidade. Exemplos claros disso são o filme contando a história de Stephen Hawking que sofreu muito com sua condição e no filme esse sofrimento foi de certa forma ‘amenizado’ e o seriado contando a tragédia de Chernobyl, que era sim uma boa série, uma baita aula de física no final, maravilhoso só que acabou diminuindo vários personagens e elegeu um como a ‘estrela principal’, mas é isso, creio que a sétima arte seja para isso, romantizar e tornar acessível ao dia a dia do público”, explica ela.
“Acho que quando falamos de filmes, sempre existe romantização. Até mesmo
documentários usam do tempero da romantização para tornar a obra mais interessante e engajante. Mas acho que temos que considerar o autor da obra. Para quem está familiarizado com os filmes do diretor Christopher Nolan, sabe que ele é fanático por atenção e fidelidade a detalhes. O diretor é famoso por não gostar de CGI, computação gráfica para efeitos especiais. Fora que não é a primeira vez que ele explora a ciência conteporânea para formar a base narrativa de seus filmes, Interestelar, um filme de 2014, brinca com a física dos buracos negros, viagens espaciais, dilatação do tempo e etc.” ressalta o estudante.
“As biografias hollywoodianas tendem a ser bem romantizadas, e o Nolan é bem
conhecido pelas suas obras de ficção científica (um gênero bem exagerado), mas ele
sempre gosta de manter o “pé no chão” de alguma forma. Eu espero que ele tenha a delicadeza de tratar um assunto como esse sem se perder em exageros ou diminuições de impacto” diz Pedro Vogt, um aluno de Jornalismo da Unesp Bauru.
Oppenheimer conversa diretamente com o nosso cenário contemporâneo, onde cada vez mais guerras vêm acontecendo. O filme pode fazer conexões diretas com a nossa realidade. Primeiro o cientista foi o precursor da criação de uma arma de destruição em massa que alterou o rumo da história e da guerra. Isso levanta sérias questões morais e éticas sobre o desenvolvimento e o uso de tecnologia destrutivas, o que permanece de extrema relevância nos dias atuais, diante da existência de um arsenal nuclear global.
“Acredito que tudo depende da forma que o filme vai contar, mas uma alegoria de como a humanidade acaba se destrói por suas ambições de progresso e busca por superioridade parece bem interessante para os dias de hoje” pontua o estudante do curso de Jornalismo.
Como todos aqueles que trabalham com a ciência, J. Robert Oppenheimer foi confrontado com os dilemas éticos em relação ao trabalho que realizou. Sua posterior expressão de arrependimento levanta importantes questões sobre a responsabilidade moral dos cientistas.
“A questão ética é muito complicada, um exemplo, muitos dos avanços em relação a tratamento do câncer por radiação no caso da radioterapia foram desenvolvidos na Segunda Guerra Mundial pelo Josef Mengele (um médico filiado ao partido nazista), que logo depois virou ‘demônio’ que todo mundo fala mal dele até hoje. E os experimentos foram feitos em seres humanos, sem ética alguma mas que trouxe uma evolução fantástica que usamos até hoje, algo feito sem escrúpulo algum. Agora falar questão de ética, claro, tudo tem ética, até com os animais, tanto que hoje, muitas pessoas procuram e eu procuro também, produtos veganos, que não são testados em animais, porque eu tenho essa preocupação.
Agora, em relação ao Robert Oppenheimer, ele sofreu, teve relatos. Tem uma fala dele que acho muito interessante que ouvi quando estava na faculdade, que o professor falou, que ele estava em um congresso, em uma entrevista, não me recordo, mas ele disse “eu me tornei a morte, eu me tornei o destruidor do mundo e de todos os mundos”, então ele tomou para si a responsabilidade de um projeto inteiro e até que ponto que ele é culpado para isso? Ele apenas cumpriu o papel dele, ele apenas fez o trabalho que ele foi pago para fazer, talvez ele não tenha pensado na responsabilidade sobre isso e se ele não tivesse feito, pode ter certeza que outro faria. Mas isso reflete a consciência dele, que se arrependeu, mas até que ponto? Então acaba que será algo que não saberemos de verdade.” a professora continua: “Só para finalizar a ética na ciência, ao meu ver, se tivesse ética em tudo, o mundo estaria menos evoluído, porque às vezes a falta de ética a falta de escrúpulos leva a grandes passos de evolução isso no ramo da ciência e tecnologia, não estou falando de atitudes pessoais, mas estou falando para a pesquisa científica. Muitas vezes fazem um experimento em um macaco para a dor de cabeça, alivia muitas vezes a dor de milhões de pessoas, mas para isso custa a vida do macaco.
E a mesma coisa com a cachorra Laika e a viagem espacial, com os macacos Rhesus e os outros foguetes que foram para o espaço com outros macacos tripulados e logo depois foram humanos e deu ruim, e acabou explodindo e acabou morrendo seres humanos. Então tudo que for feito tiver ética, 100% de ética, não há evolução, mas isso é o meu ponto de vista.” finaliza Renata.

O físico J. Robert Oppenheimer | Foto: retirada do Google Imagens
“Acho que o contexto é algo necessário para compreender a razão ética de ações
catastróficas como a criação da bomba atômica desencadeou. Alguns dos cientistas envolvidos no projeto, nem sabiam ao certo as intenções da pesquisa, alguns deles constam que foram ditos que os alemães já estavam em desenvolvimento de uma arma nuclear, e por um fator de alarme, era necessário a criação de uma arma para um possível contra ataque para a defesa dos Países Aliados”, discorre o aluno da Faculdade de Ciências.
No caso do ‘pai da bomba atômica’, seu arrependimento pode ser interpretado como o reconhecimento das consequências devastadoras da bomba e uma porta para a reflexão sobre o papel dos cientistas na sociedade. Isso ressalta a importância de considerar o impacto político, social e humano do trabalho científico, levando em conta não só as implicações imediatas, mas também as de longo prazo.
A questão da ética que envolve o cientista é sobre responsabilidade coletiva e individual de usar o conhecimento de maneira responsável, levando em consideração o bem-estar da humanidade, a segurança global e o avanço tecnológico.
É um filme que promete não só uma história de um homem que criou algo devastador para proteger o mundo, mas também nos promete expectativas e sérias reflexões.
“Tenho muitas expectativas para o filme, mas é assim né? Eu espero que seja bom, que retrate parte da realidade que foi um projeto muito grande, que deu início a uma era muito grande da ciência e tecnologia, trouxe muita evolução, mas também trouxe muito sofrimento e muita destruição, crise de consciência. Tenho expectativas, mas não sei se vão ser atingidas em relação ao filme. Até porque, nos dias de hoje ainda se teme o projeto Manhattan.
Agora uma expectativa que eu tenho e espero que seja cumprida, é o fato de mostrar e trazer à tona o perigo que é o poder nuclear, pois muito se é falado, mas muitas pessoas não tem ideia o que aconteceu em Chernobyl ou em Hiroshima e Nagasaki. E a tristeza que é, o tanto de pessoas envolvidas, o sofrimento e o nível de devastação. Isso que espero que o filme venha a contemplar para trazer a luz a realidade disso.” discorre a discente de física.
“Tenho expectativas, como disse antes, a guerra já é um conceito muito explorado. Estou interessado em descobrir como ele adicionou nesse assunto de forma positiva.” fala Francisco.
“Além de uma história boa, eu espero muito rigor técnico do Nolan, porque eu soube que ele gravou esse filme usando rolos de filme e câmeras de última geração, e espero que isso se mostre na tela. E é claro uma atuação fantástica do Cillian Murphy, um ator que eu gosto muito.” diz Pedro.
O que resta agora é esperar até o dia 20 de julho e descobrir o quão devastador e
reflexivo Oppenheimer é.
